Estas palavras foram escritas em momento muito conflituoso e difícil da minha vida. Na época, considerava que tinha dentro de mim três demônios. Estes demônios eram meus maiores medos, sentimentos encarcerados, rancor, arrependimento, e muito mais, tudo isso me consumia. Foi de repente que eu consegui perceber estes seres que se alimentavam de minha infelicidade. E hoje sei que a batalha só começou a ser vencida quando passei a enxergá-los, sabia quem eram, o que eram, e pra onde me levariam. Olhar o meu pior lado de frente e decidir enfrentá-lo, isso mudou a minha vida. A primeira parte do texto foi escrita no pior momento, quando descobri meus demônios e achei que perderia, a segunda parte foi escrita quando decidi encará-los. Hoje estes estão vencidos, mas as vezes eles voltam a me assombrar. E nunca tive coragem de postar este texto, talvez medo dos demônios, medo de mostrar um lado pessimista meu. Mas sou eu... Fui eu... Faz parte de mim.
Demônios no Rio
Estou em um rio
de areia movediça,
Prestes a me
afogar.
Eu vejo meus
sonhos e desejos
Pelas margens
passar,
O rio flui tranquilo...
A me carregar.
Neste curso
previsível e monótono,
Eu não mais quero
estar.
Quanto mais me
debato,
Mais para o fundo
ei de escorregar.
Perdi-me nessas águas
Que deixo por inércia me levar.
Às vezes, crio
forças,
E pra margem
tento nadar.
Sufoco-me, grito,
a raiva me toma
E não consigo
escapar.
Meus demônios
agarram meu corpo
E para o fundo
insistem em me puxar.
Eles se alimentam
de meus medos e frustrações,
Eu cabisbaixo não
ouso os encarar.
Eles estão ali, eu finjo que não os vejo,
Mas eles insistem
em me atormentar.
O rio corre
rápido, e algum dia,
No mar há de desaguar.
Lá, a praia é
distante,
Só me restará chorar.
As margens
parecem tão perto
Que às vezes eu
sonho alcançar.
Não vejo saída,
não há escolha,
Se não, continuar.
As cordas que me
jogam, eu não às vejo.
As margens se
estreitam, eu não estendo a mão.
Se o rio fica
raso, eu não levanto.
Estou perdido em
mim mesmo, rodeado de ilusão.
A luz do meu
caminho está me segando.
Eu olho desesperado
pra todos os lados e só vejo escuridão.
Neste rio que me
arrasta, só há o que levo comigo,
E tudo isso
parece se desfazer.
Pego minhas
lembranças e elas escorrem entre meus dedos,
Não as quero, mas
elas definem o meu ser.
Estou destruído,
estilhaçado,
Lutando, para neste rio, não desaparecer.
A luz me toma e
eu mergulho fundo,
Buscando meus
demônios encontrar.
Eles me cercam,
me machucam, estou desarmado!
Uns dos outros estão a se alimentar.
O medo me domina,
o rio fica gelado, meus olhos vacilam.
Vasculho o meu
peito, pra minhas armas pegar
Luto empunhado
com a coragem
Disposto a carne
do inimigo, cortar.
Mas eles resistem,
são fortes, meu sangue os alimentam
Eles me puxam,
fico tonto, vão me arrastar!
Uma mão me
segura, eu olho. E a esperança é quem vejo.
Volto à tona, sei
que mais fracos, os demônios, hão de ficar.
O rio ainda me
arrasta,
Mas ainda posso
respirar.
Meus demônios
estão mais fracos,
Mas ainda vivos.
Conseguem me segurar.
Um dia, após
muitas batalhas,
E antes do mar eu
avistar. Ei de me libertar.
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