terça-feira, 28 de agosto de 2012

Texto - Morri e Voltei.

 Hoje dia 24 de fevereiro acordei de um sonho incrível e tão intenso, que fiquei minutos atordoado, e antes de voltar a dormir decidi escrever este texto, com medo de depois não poder mais.

      Em um lugar distante, meio sem saber das coisas começa o sonho, eu estando em um ônibus simples, tudo meio confuso como são os sonhos, e logo saltei pela porta do veículo, num lugar simples, parecendo familiar e ao mesmo tempo diferente, uma mistura de campo, no interior, com praia, um lugar que me levou as lembranças da infância. Me lembrei agora, antes de dormir estava relembrando de uma vez que fui a praia com minha família, onde em certa hora queria chegar a umas pedras  em meio ao mar, queria ir de qualquer jeito e insisti com minha irmã que estava comigo. “Vamos. Vamos!” Eu queria que nós atravessássemos andando pelo mar, em meio as ondas fortes, para chegar as pedras da ilhota, umas dezenas de metros nos separavam, uns pescadores estavam fazendo isso, parecia tão simples e seguro, que a vontade me tentava, mas o medo também me segurava e buscava apoio da minha irmã para ganhar coragem. As ondas batiam fortes contra as pedras, demos alguns passos, e me lembro que estava doido de vontade pra ir até a ilhota, e o medo me impediu de seguir pelo mar, minha irmã também com medo decidiu voltar. E então pensei em cortar pela mata, em meio as pedras lisas a beira do mar, um caminho íngreme e perigoso, também um desafio. Pensamos um pouco, tentados em chegar num lugar que de longe parecia lindo... E era lindo, tentador, mas o medo. Este sentimento que se contrapõe as vontades, as perguntas, mas se eu fizer isso? Tantas coisas ruins podem acontecer... Os anseios, quanto ao futuro, dominaram a minha mente e o medo venceu. Uma mistura de frustração e alívio me tomou, a vontade era tanta, queria que minha irmã me desse coragem, bastaria ela dar um passo, tanto rumo ao mar quanto rumo ao caminho pelas pedras, que o medo perderia e eu teria coragem, mas... Voltando ao dia do sonho, lembro-me que a noite, antes de ir dormir estava pensativo, avaliando os rumos da minha vida, pensando em quantas coisas eu sempre quis fazer e não fiz, das vontades que eu sufocava e escondia, de como minha vida era chata, e me lembro agora que no dia anterior  estava me perguntando se a minha família me aturaria se eu não fosse um parente. Meu mau humor, meu jeito meio doido, impulsivo e muitas vezes egoísta, não irritava a todos, a ponto de se distanciarem de mim. Voltando ao sonho, ele foi curto, mas intenso e quando acordei estava feliz e em paz. Meu coração parecia mais leve, as angústias que estavam comigo quando fui dormir não as sentia mais.  No sonho logo depois que deixei o ônibus cheguei numa espécie de confraternização à beira mar, uma praia cheia de gente, que andavam pelas ruas felizes. Eu também estava feliz e em paz, quando de repente encontro andando de bicicleta alguém conhecido, esta pessoa estava muito diferente, mas eu a reconheci, ele parou me estendeu a mão, eu feliz disse. “Você está aqui”. Lembro que pensei, mas esse cara já morreu, ele dizia alegre para as pessoas em volta. “Mas o Fernando ta aqui!” Eu estava confuso, achando que tudo aquilo era real, e será que não era? Aquele homem que encontrei, o conhecia deis da infância, uma pessoa que aprontou muito, fez muita coisa errada, prejudicou algumas pessoas, roubou, e que sofreu muito antes de morrer. Definhando na cadeia por várias doenças, e dias antes de morrer, muito doente foi entregue a família para morrer em casa.  Eu apertei a mão daquele homem sorridente e em paz consigo mesmo, me dando conta do que estava acontecendo. Eu havia morrido!!! Olhei direito ao redor e vi mais algumas pessoas que tinham morrido, vi muitos idosos alegres e falantes, vi pessoas das quais não conseguia me lembrar de onde as conhecia. Então, virei as costas e comecei a voltar pelo caminho que  tinha vindo, e repetia freneticamente, “Preciso voltar! Preciso voltar!” Todos me olhavam sorrindo e diziam. “Mas você não pode!” Eu ignorei os sorrisos, para mim estranhos e ameaçadores e comecei a correr tentando voltar. “Preciso voltar! E minha família como ficará? Preciso voltar para eles!” Era só o que pensava, passei por várias pessoas, lembro que desci uns degraus de madeira e sai da varanda simples a beira mar, e fui em direção a uma ladeira íngreme, uma rua de terra. Conhecia aquelas ruas, um lugar com muito verde, animais soltos pela rua, um ambiente rural, como as lembranças doces da minha infância. Lembro ouvir as pessoas rindo felizes, rindo não de mim e sim da minha ingenuidade em querer voltar, e uma senhora de idade disse. “Não tente voltar, seu lugar é aqui, você não pode voltar” Agora me lembro, estava cercado de idosos de sorrisos cansado e felizes, eles insistiam para eu não tentar voltar. Eu tentava subir a ladeira, mas algo me impedia, eu não conseguiria mais correr, lembro-me de passar por um casal desses idosos e quando dei às costas as eles, a senhora falou rindo da minha inocência. “Ele quer pegar a nave de volta.” Disse como se fosse algo impossível, mas eu lembro saber que precisava voltar de qualquer jeito, mas o medo de não conseguir me apavorava, mas por outro lado a beleza e felicidade naquele lugar me tentavam a ficar. O medo presente em minha mente às vezes deixava de ser apavorante, e eu quase desistia. Mas precisava voltar e queria mais que tudo voltar, quando olhei ao meu redor, eu vi algumas pessoas na ladeira, que tremiam em pé, indo de um lado para o outro tentando subir a ladeira, mas não conseguiam voltar, não saiam do lugar, não iam em frente. Algumas desistiam e voltavam para alegria das pessoas na praia e na varanda. Então senti que algo também me segurava, e eu fazia e fazia força, mas quase não saia do lugar, era como se dezenas de pessoas me segurassem, meus músculos pareciam travados, não sentia dor, mas algo queria me deter. E eu dizia pra eu mesmo escutar. “Preciso voltar”.  Queria mais que tudo seguir em frente, voltar, tinha medo, mas no fundo eu sabia que se não desistisse, se eu quisesse com todo o meu corpo, eu conseguiria voltar.  Então me lembro de estar na cama, lutando contra aquela paralisia do meu corpo, contra aquela força que não queria me deixar voltar. Estava me contorcendo, gemendo, tinha tempos que tudo ficava escuro, e para a praia calma eu voltava. Mas insistia, lutava, lutava. “Tenho que voltar!” Depois de muito esforço, eu tinha a percepção que estava em minha cama, sabia e dizia. “Tenho que levantar!” Lutava ferozmente contra a força que ainda me segurava, mas eu estava determinado e sabia que conseguiria, não podia ficar lá! Começo a me virar e agarrar os lençóis, a lutar comigo mesmo, começo a ouvir a minha voz. Em meus pensamentos repetia: “Preciso vencer meus medos! Deixar de ser covarde! Fazer o que quero! Seguir o meu caminho, aquilo que sinto em meu coração! E não posso deixar esse mundo me sufocar! Tenho que ser uma pessoa melhor! E os meus medos aos poucos me transformam em uma pessoa ruim, uma pessoa frustrada e inquieta.” Lutava para acordar, eu queria acordar. “Tenho que tratar melhor as pessoas, preciso dizer a minha família que os amo, e que eles são tudo para mim, não posso deixar o medo me corroer.” Então lembrei... Daquele dia, lá na praia com minha irmã, eu sabia que aquela ilhota, distante, era linda, eu via pessoas chegando até lá, mas meu medo me impediu. Eu sabia qual era o meu caminho, mas estava esperando alguém pegar a minha mão e me atravessar, no caso a minha irmã, minha família sempre estaria comigo, me apoiando me dando forças, mas o primeiro passo tinha que ser meu, se eu queria atravessar o mar e chegar a ilhota, cabia a eu escolher o caminho. Talvez o mais rápido e mais perigoso, talvez o caminho mais longo, mas mais árduo. Então acordei... Abri os olhos e levantei da cama correndo, ofegante. “Voltei! Consegui! Graças a Deus!” Me senti livre e corri em direção à porta do quarto, fui até a cozinha, tomei um copo de água no escuro, e a porta de casa estava aberta, eu vi a praia. Soltei um espasmo e percebi que havia me enganado, que ainda estava na cama, lutando pra levantar, percebi que meu medo tinha tentado me enganar, me ludibriar, me dando falsas esperanças e falsos caminhos. O medo pareceu que ia vencer, eu estava lá, parado na ladeira íngreme de novo, cansado. Acho que não vou conseguir voltar, parece que meus medos venceram de novo, a ilhota estava longe de novo, e os caminhos para chegar lá, eram difíceis, instransponíveis. Então me acalmei, pensando em desistir, talvez a tranquilidade da praia fosse melhor, não era o que eu queria, mas era o que eu tinha, era o lugar onde eu podia estar, tranquilo, lindo, vou me acostumar. Meu coração bateu lento e forte, a calma tomou meu corpo, falei com meu medo. “Medo! Se o mar te apavora, não vou me jogar sobre as ondas revoltosas, vou aprender a nadar. Medo! Se o caminho é árduo, íngreme e escuro, prometo que não vou sozinho. Medo! Vou te dar paciência, pra você não penar. Medo! Não me paralise, me ajude a Caminhar. Ande comigo, não corra de mim, não esteja na frente ou atrás, esteja ao meu lado.” Eu abri os olhos, levantei calmamente, estava tranquilo agora, sai do quarto, fui a cozinha, no escuro, tomei um copo de água, caminhei em direção a porta, toquei a maçaneta e a porta estava fechada, sorri diante dela. Tudo estava quieto, sentei no sofá, fiquei pensativo por um tempo, a sala estava iluminada pela luz de fora, e decidi voltar a dormir, ao deitar fiquei pensando no ocorrido, por um instante tive medo de deitar, de ter morrido e voltado, e se deitasse poderia não ter outra chance de voltar, mas o medo logo passou, e meus olhos encheram de lágrimas.  Pensei não posso dormir, então voltei à sala e comecei a escrever este texto, a contar essa experiência tão real e fantástica, que mudou a minha vida. Meu subconsciente me avisou, me fez olhar pra dentro de mim, ajudou a curar minhas feridas, e hoje sei que meus medos continuam lá, mas não me segurando, ou me frustrando, e sim ajudando eu a escolher um caminho melhor. Meu medo, aquele que fez eu escrever tão de imediato esse texto, não foi o da morte, e sim o de esquecer essa experiência fascinante. Depois, analisando melhor o ocorrido sei... Morri sim, pois mudei, enxerguei, e hoje sei que a vida é assim, renascer a cada dia buscando escrever dias mais e mais felizes.