sábado, 20 de setembro de 2014

Poesias baratas - Chão Fértil

Porque é tão difícil caminhar em direção ao seu coração?
Eu piso em armadilhas.
Porque cultivas esses muros?
Constrói labirintos escuros.
Porque diz que me ama, mas me afasta?
Suas frases cheias de palavras e vazias de sentimento.
Brincas comigo? Ou não sabe o que é amar?
Eu sinto que é de verdade, mas a razão me envenena.
Sei que me quer. Mas porque seu corpo foge do meu?
Não era mais como antes, não é mais como agora.
Sinto que acabou. Nossos caminhos se afastaram?
Afastamos-nos do nosso caminho.
Onde foi parar uma parte do nosso amor?
A realidade passou como um trator sobre nós.
Onde está o seu sorriso? E o meu?
Você é ingênuo e relapso. Eu sou intenso e exigente.
Não quero que acabe. Será?
Quero você, fazer carinho em sua face, te beijar.
Onde está o calor da sua boca sobre o meu corpo?
Acho que um de nossos amores morreu.
Poderia este ainda pode renascer?
Sei que sim. Mas também sei que só a semente não basta.   

O chão fértil está aqui. Onde está a água e o seu regador?

sábado, 5 de julho de 2014

Ciência, Tecnologia e a Sociedade.

Será que a tecnologia acarreta realmente uma melhora na qualidade de vida para todas as pessoas? Será que estamos no rumo certo? Poderia estar a Ciência e a Tecnologia reféns da futilidade, e se distanciando cada vez mais do bem social? Vamos fazer uma reflexão sobre estes tão complexos e controversos temas. 




O objetivo deste texto é relacionar e confrontar os caminhos da ciência e da tecnologia atuais com os preceitos da sociedade de hoje. A disciplina que estuda a interação entre estas áreas é a Ciência, Tecnologia e Sociedade - CTS, e no livro homônimo de Santos et al. (2004) estes conceitos estão bem discutidos e definidos. Este acaba desmistificando as imagens essencialistas da ciência e tecnologia e revelando-as como complexas atividades humanas, dependentes, dentre outros fatores, do contexto social e de interesses políticos e econômicos, que nem sempre são morais e éticos. O primeiro capítulo “Ciência, Tecnologia e Sociedade: O estado da Arte na Europa e nos Estados Unidos”, será utilizado para fazer a abordagem e analisar os caminhos da ciência e tecnologia no mundo. E posteriormente, o enfoque será em um ramo muito importante da ciência, as chamadas Interfaces Cérebro-Máquina - ICM. Estes são aparelhos capazes de ler ondas cerebrais ou impulsos nervosos enviados por nosso cérebro e transformá-los em comandos eletrônicos que podem comandar próteses ortopédicas, sensores eletrônicos ou qualquer equipamento externo. Porém, antes veremos pontos importantes no desenvolvimento dos conceitos da CTS.
Na primeira metade do século XX o desenvolvimento tecnológico deu um grande salto movido pela II guerra mundial, e foi apresentado ao mundo como a salvação da humanidade. Conforme o livro de Santos (2004) “somente é possível que a tecnologia possa atuar como cadeia transmissora no desenvolvimento social se sua autonomia é respeitada, se deixa de lado a sociedade para atender unicamente a um critério interno de eficácia técnica” (p. 13). Este trecho mostra uma arrogância dos cientistas da época, achando que a ciência e tecnologia deveriam estar afastadas da sociedade, e que apenas os conhecedores a fundo de suas descobertas científicas estariam aptos a definir o seu papel na humanidade. Esta é claro, uma visão ultrapassada, mas que acabou colaborando para a criação da CTS. E será que esta visão distorcida realmente não é mais encontrada hoje? Bem, a resposta é não. Grande parte da ciência e tecnologia ainda é refém de interesses financeiros e pessoais, da vaidade de pesquisadores que quase sempre estão pendurados em cargos de instituições públicas, que se quer utilizam uma visão ampla envolvendo a sociedade, há uma total falta de planejamento do setor público, justamente quem deveria zelar pela sociedade. E em países em desenvolvimento como o Brasil esse problema é ainda maior. Em entrevista ao site de notícias IG o renomado neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis que trabalha na Duke University, nos Estados Unidos, fala dessa visão sem planejamento da ciência brasileira, dos atrasos na aprovação de leis, do grande entrave burocrático existente e da perda de várias correntes científicas e tecnológicas por parte do Brasil. Ficando hoje muito atrás, por exemplo, na revolução da nanotecnologia. Segundo o pesquisador já produzimos um grande volume de artigos científicos, mas infelizmente a qualidade não é muito boa, pois há uma pequena participação de artigos brasileiros na vanguarda da ciência mundial. Visando enriquecer a discussão a respeito da ciência e da tecnologia e sobre o mito de serem, em última análise, benfeitoras, Santos et al. (2004) comenta “não devemos esquecer, para completar esse negro panorama, campos científicos- tecnológicos tão problemáticos como a energia nuclear ou a biotecnologia” (p. 30). O acidente nuclear em Fukushima no Japão e o polêmico programa nuclear norte-coreano são exemplos que corroboram com o posicionamento dos autores. O acidente no Japão ocorreu em março do ano de 2011 e teve como causa o tsunami que arrasou as instalações da central nuclear, afetando os sistemas de resfriamento dos reatores e geradores de emergência situados no subsolo. E em um país onde esse fenômeno natural derivado dos terremotos é tão comum, esses danos não foram previstos? Foram sim, mas acabaram sendo negligenciados por parte do governo e das agências reguladoras japonesas. Estas adiaram as decisões necessárias para tornar a usina mais seguras, conforme resultado final da comissão parlamentar que averiguou o caso. Como uma das consequências do desastre em Fukushima, pode-se mencionar o que foi relatado pelo site de notícias G1: o fato de que cerca de 50 mil moradores dos municípios mais próximos da usina nuclear continuam sem poder retornar as suas casas por causa das emissões radioativas. Estas afetam gravemente a agricultura, a pecuária e a pesca local. Para José Goldemberg, professor da USP, o uso da energia nuclear é um assunto muito sério, tendo em vista os cuidados inerentes ao seu uso, especialmente os referentes ao armazenamento dos resíduos produzidos. Conforme ele diz: “Não se conseguiu até hoje fazer um reservatório adequado para guardar esse "lixo" que seja definitivo, apesar de já existirem 70 mil toneladas guardadas em depósitos provisórios no próprio local onde se encontram os reatores nucleares.” Outro exemplo que corrobora com o posicionamento dos autores do livro é o programa nuclear norte coreano. A Coreia do Norte, que realiza testes nucleares desde 2006, com explosão de bombas e lançamento de mísseis, põe uma situação de constante insegurança nos países vizinhos. Estes exemplos confirmam a exclusão da sociedade como um todo, em questões do desenvolvimento científico e tecnológico que envolve diretamente a vida dessas pessoas. Ficando evidente, por exemplo, no Japão que estas pessoas não foram consultadas e não tinham o real conhecimento quanto aos perigos da opção energética nuclear adotada como matriz energética em todo o país. Entretanto, podemos observar que a tecnologia não é somente algo ruim que devemos temer, esta auxilia de forma extremamente positiva na melhoria de nossas vidas, principalmente na área médica, sendo muito difícil imaginar o mundo sem o suporte dos meios tecnológicos. Porém, o desenvolvimento sem participação efetiva da sociedade como um todo está levando a ciência e a tecnologia cada vez mais para um grupo específico da população, os mais ricos, deixando os grandes avanços mais distante da população em geral. O que vemos é uma desigualdade cada vez maior no mundo, onde num extremo, por exemplo, grande parte da população está desnutrida e sofrendo com a fome e no outro está sofrendo com a obesidade.
Atualmente, existem ramos da ciência e tecnologia que especificamente iniciaram-se com um apelo social, voltados essencialmente para o bem estar da sociedade, a Interface Cérebro-Máquina é um destes. Diversas pesquisas sobre exoesqueletos respondendo a impulsos nervosos, e a utilização do controle cerebral para atividades diversas, são realizadas em todo o mundo. Apesar de muitos acreditarem que isso é algo futurista, muitos pesquisadores já obtiveram resultados positivos em seus estudos, com aplicações reias já desenvolvidas e testadas em baixa escala, voltada principalmente para a construção de próteses (ortopédicas, sensores de som, de luz e etc), devolvendo a pessoas, ainda de forma não muito eficiente, movimentos aos membros, restaurando a audição e recuperando parcialmente a visão. Um grande exemplo do avanço neste ramo científico é o projeto “Walk Again ou Andar de Novo” liderado pelo neurocientista Miguel Nicolelis. Este é extremamente ambicioso, e tem como objetivo principal utilizar um exoesqueleto para devolver o controle de movimentos motores para pessoas que já não os tem mais. O equipamento estará preso por presilhas ao corpo de uma pessoa com deficiência motora, ou com membros amputados, como se fosse um segundo par de pernas e braços. O importante é que o usuário poderá controlar os movimentos do exoesqueleto somente pensando nos movimentos que deseja executar. O conteúdo da reportagem “O Cérebro no Controle: os novos poderes da mente” da revista Galileu explora este campo da ciência e tecnologia e enfatiza o trabalho de Nicolelis. Este projeto já vem sendo desenvolvido há alguns anos e tem o auxilio de centenas de cientistas trabalhando no Brasil e no exterior. Uma de suas metas era construir um protótipo e demonstrar o seu funcionamento, fazendo o usuário caminhar sozinho e dar o chute inicial na bola do jogo de abertura da Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Porém, o resultado foi muito preliminar e só foi conseguido que o usuário com o exoesqueleto apoiado desse um pequeno chute a uma bola que estava a centímetros do seu pé. Havendo muito ainda o que aprimorar, porém esse já foi um grande passo dado nessa área. A reportagem também destaca o trabalho do brasileiro doutor em biomédica Carlos Criollo, que em seu laboratório na UFMG, utiliza um aparelho que pode ler as ondas produzidas pelo cérebro através de eletrodos. E demonstra ser possível utilizar a interface como um joystick, pensando nos movimentos, estes são captados pelos eletrodos colocados na cabeça, decodificados pela interface e passam a controlam um cursor na tela. Essa tecnologia já vem sendo utilizada, existindo dispositivos que utilizam o mesmo princípio para um jogo que tem como objetivo mover uma bolinha virtual de um lado para o outro com a força dos pensamentos. A reportagem também explora os entraves a esta tecnologia, explicando as dificuldades da captação de ondas celebrais por eletrodos, sendo muito complexa a interpretação dos dados para a execução de movimentos mais precisos. Isso poderia ocasionar uma inversão do sentido da interface do homem controlando a máquina, exigindo algoritmos tão complexos que acabaria ocasionando na máquina controlando o homem. O trabalho que consagrou o neurocientista Miguel Nicolelis apresenta uma tecnologia mais invasiva, utilizando implantes eletrônicos diretamente conectados ao cérebro, o que facilita a interpretação dos impulsos nervosos quando são coletados diretamente na fonte, no caso o cérebro. Este princípio já foi demonstrado por Nicolelis com o implante cerebral em macacos, que foram treinados e conseguiram movimentar um braço robótico apenas pensando nos movimentos. Porém, um problema dos implantes cerebrais é a cicatrização das áreas em contato com o dispositivo eletrônico, que com o tempo acaba diminuindo a intensidade dos impulsos elétricos, gerando uma maior dificuldade na captação deste e uma interferência no sinal elétrico. Mas, segundo o neurocientista a cicatrização completa da área não ocorre, como alguns pesquisadores previam, e a utilização de drogas que inibam estes efeitos pode resolver o problema desta interferência no sinal. A reportagem da revista Galileu vai além, dizendo que em um futuro não muito distante possa existir uma rede mundial de cérebros, onde as pessoas poderiam comunicar-se apenas por pensamentos. Será? Teremos que esperar pra ver. O fato é que até então esta tecnologia ICM estava voltada para devolver movimentos a membros imóveis ou amputados através de próteses, e que agora surgi uma forma de explorar comercialmente esta tecnologia. Esta vem ganhando cada vez mais notoriedade com interesses de grandes empresas visando o controle de máquinas e equipamento via pensamento. Com aplicações que visam à substituição de controles manuais em geral, mouses, teclados, vídeo game, direção de automóveis, etc. E até mesmo nas redes sociais onde poderia ser realizado um post apenas utilizando o pensamento. É triste pensar que uma tecnologia tão nobre do ponto de vista do seu potencial social (devolver os sentidos as pessoas), precise ser banalizada para tornar-se viável e acessível à sociedade.
Há um problema claro da falta de democratização da tecnologia, precisando este começar a ser resolvido primeiramente com educação, enraizando cada vez mais uma cultura de CTS nas pessoas. Assim, uma geração mais consciente pode começar a exigir dos governantes diretrizes mais específicas quanto ao uso de novas tecnologias, vigiando a aplicação de recursos públicos em pesquisa, por exemplo, devendo estes estarem focados essencialmente em tecnologias sociais. É necessário cobrar um pensamento mais coletivo e próximo da sociedade que vise o desenvolvimento sustentável. É preciso ressaltar que esta visão já é antiga e a adoção do desenvolvimento sustentável também, empresas multinacionais já adotam isto há décadas. A compensação de carbono que já está normalizada internacionalmente é um exemplo disto, sendo um avanço deste conceito. Estas multinacionais precisam compensar a emissão de gás carbônico na atmosfera de suas atividades, obrigatoriamente investindo em projetos de desenvolvimento sustentável pelo mundo. Em contra partida recebem o selo verde, podendo, por exemplo, capitalizar suas empresas com recursos financeiros mais baratos. Porém, está ainda é uma política quase que exclusiva dos países desenvolvidos. Como conclusão temos que é imprescindível que o custo real das tecnologias chegue ao conhecimento da maioria da população, os impactos sociais, econômicos e ambientais precisam ser levados em conta na adoção das tecnologias. A ciência e tecnologia tem que deixar de ser usada essencialmente de forma banal e precisa passar a ter em sua grande parte um caráter social. Sendo esta a questão mais importante da CTS, primordialmente abordada no livro de Santos (2004).  


Referências

- SANTOS, Lucy W. dos... [et al.] (orgs). Ciência, Tecnologia e Sociedade: o desafio da interação. Londrina: IAPAR, 2004.

- CEREZO, José Antônio López. Ciencia, Tecnologia y Sociedad ante la Educación. In: Iberoamericana de Educación, Espanha, n.18, p.41-48, set/dez 1998.

- MADOV, Natasha. Miguel Nicolelis quer espalhar ciência pelo Brasil. Disponível:<http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/miguel+nicolelis+quer+espalhar+ciencia+pelo+brasil/n1597087584972.html>.
Acesso em: 02 jan. 2014.

- BERNARDO, André. O Cérebro no Controle: os novos poderes da mente. In: Galileu, Rio de Janeiro, n. 246, p. 39-47, jan 2012.

terça-feira, 20 de maio de 2014

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Livro - Silenciosamente, Amor! Cap.2


Capítulo 2 – Ambiguidades 



Em uma cidadezinha bucólica em meio a uma noite fria e nublada, o ônibus acelerado atravessa a rua calçada com pedras de paralelepípedos e contorna a esquina. Em um dos lados da rua quarteirões descampados e escuros cobertos por muito mato alto, e do outro uma minúscula
rodoviária antiga e sem muros. Tendo apenas um pequeno espaço para os ônibus pararem, quatro pequenas plataformas separadas por faixas amarelas pintadas ao chão. Júlia ao ver a rodoviária levanta-se, pega a sua mala que estava no bagageiro e a coloca no chão. Quando de repente o ônibus faz uma curva brusca para se alinhar na plataforma de desembarque e Júlia sem estar se segurando se desequilibra, e é empurrada para a janela. Ela se agarra como pode no bagageiro, mas é arremessada para o colo de Pablo, que a segura firme. A moça fica completamente sem graça, levanta-se rapidamente ajeitando a roupa e fica sem saber o que dizer.
- Desculpa... Nossa! Eu não sei como... Obrigado, tá. Diz a moça ao rapaz. Ela pega sua bolsa e sua mala e parte corredor a fora, querendo sair o mais rápido possível dali. Pablo fica envergonhado e permanece calado. Ao dar um paço desajeitado carregando suas bagagens, a moça com seu sapado com meio salto vermelho torce o pé, mas rápido se recompõe. É quando, ela cabisbaixa se vira novamente para o rapaz e diz:
- Ah! Desculpa tá. Eu estava nervosa àquela hora, desculpa.
- Tudo bem, eu também estava sonolento por causa de um remédio e... Tudo bem. Fala Pablo fazendo um gesto com a mão, dizendo que a moça poderia ir. Ao ouvir “remédio”, Júlia teve certeza que aquele homem tinha sérios problemas, ela sorri discretamente e foge dali, arrastando novamente a sua mala pelo corredor apertado. Júlia desce do ônibus às pressas sem saber para onde ir, quando ao longe avista um guichê da única empresa que atua naquela minúscula rodoviária. Apressada ela parte rumo ao lugar, arrastando sua mala e carregando sua imensa bolsa, ela vira-se para trás curiosa e vê Pablo meio desajeitado descer do ônibus e falar com o motorista. Ela aperta o passo fugindo do jovem, enquanto ele ajuda o motorista a pegar umas malas de um passageiro que também acabou de desembarcar, um velho baixinho e caipira.
- Ei rapaz! Eu quero uma passagem de volta. Fala Júlia apressada batendo no vidro do guichê para um rapaz magrela e de barbicha que está assistindo TV.
- Calma Dona! Num tem ônibus mais não hoje. Fala o rapaz bravo diante do desespero da mulher.
- O que?
- São onze e pouco da noite, Dona! Fala ele com seu sotaque bem arrastado.
- E amanhã, qual o primeiro?
- Ah só às sete da manhã.
- E na outra cidade? Tem algum?
- Hoje não.
- Droga! Droga! Inferno viu. - resmunga a mulher - E você sabe onde tem um hotel aqui? Pergunta Júlia nervosa.
- Saber, eu sei, mas é longe daqui.
- Onde eu pego um táxi?
- Táxi!? Ah moça, tem não viu. Fala o magrela rindo da mulher.
- O quê! Não é possível! Ônibus, carroça, alguma coisa...
- Essa hora, só os pé da senhora mesmo! Júlia pensa em xingar, mas se controla e engole o palavrão.
- Me dê uma passagem para outra cidade então!
- Passagem? Tem não, só com o motorista.
- E aquele ônibus? E a mulher se vira pra apontar o ônibus que acabou de deixá-la. Ela arregala os olhos e começa a correr em direção ao ônibus, que já está fechando a porta e
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deixando a plataforma. Júlia grita e sacode a mão como pode, arrastando a mala e segurando a grande bolsa colorida, fazendo o caminho de volta ao ônibus, ainda mais apressada do que na vinda. Pablo observa a jovem mulher com seu sapato vermelho correr desesperada e desengonçada, ele tenta avisar o motorista, que já com a porta fechada está deixando apressadamente a rodoviária. O ônibus vira a esquina e vai embora enquanto Júlia desaba de raiva no meio do caminho, largando a sua mala no chão e soltando um grito baixo. Pablo carregando sua mochila preta e mais duas malas do senhor que acabara de desembarcar, vai até a ofegante Júlia que está arcada com as mãos nos joelhos e de cabeça baixa.
- Tá ruim voltar, né? Eu também queria, mas... – o rapaz ajeita os óculos e continua a falar um pouco desajeitado - Eu estou indo de carona para um hotel, aquele senhor deixa o carro por aqui enquanto faz compras na cidade e na volta passa em frente ao único hotel da cidade. Júlia ergue a cabeça respirando ainda com certa dificuldade e solta um sorriso sem graça, pois queria ficar longe daquele rapaz estranho, mas naquela noite nada saia como ela planejava.
- Acho que isso é um convite, então? – a mulher abaixa a cabeça de novo – Olha o que me restou. Onde eu fui me enfiar?... Reclama Júlia, baixinho.
- Te resta também ali, pra você se enfiar. Fala Pablo de forma irônica apontando para um par de cadeiras azuis e de plástico em frente às plataformas de ônibus. Júlia o fita com um olhar fulminante, tira as mãos dos joelhos e se ergue ajeitando a roupa.
- Vou aceitar a carona. Diz ela de forma ríspida e incrédula diante do tom irônico do rapaz, afinal ele até então só havia apresentado um comportamento calmo e passivo diante dela. 
- Eita, o casar tá cansado, mas logo que chegamos no hoter. Fala o senhor caipira, barrigudo e baixinho arrastando suas duas malas. Júlia enche os pulmões pra rebater o que o velho disse. “Casal! Até parece.” E logo desiste, deixando a reclamação somente em seus pensamentos. E todos mudos deixam a rodoviária, arrastando um monte de malas rumo ao carro do velho.
Eles atravessam uma rua mal iluminada e aparentemente abandonada há tempos, até chegarem a um descampado onde o carro está estacionado. Júlia ao ver o carro arregala os olhos não acreditando no que vê, um Fiat 147 velho, sujo de barro e muito enferrujado, com o para-choques traseiro amarrado com corda.
- Ahhh, viu... Meu carro é velhinho, mas é bão. Anda que é uma beleza. Diz o velho caipira. Pablo também se espanta. “Como caberiam as malas mais os três naquele carrinho?” Se pergunta ele em pensamentos. Sem falar no estado de conservação nulo do carro. O velho continua:
- Ah, tem uma coisa também, não tem banco traseiro, viu. Eu tiro pra caber as malas, mas vocês dois cabem no banco da frente, são um casal magrinho, magrinho. Ao ouvir aquilo, Júlia para imediatamente e solta a sua bagagem no chão.
- Como? Eu só pergunto isso! Como caberemos em um mesmo banco? Fala a mulher já quase chorando e pensando nas cadeiras azuis, lá atrás. Sendo estas as únicas companheiras em uma noite fria e por mais de sete horas, naquela velha e desprotegida rodoviária. Pablo preocupado e de cabeça baixa retira seus óculos, passa a unha do dedão direito na lente que está quebrada, lembrando-se que realmente precisa trocá-la. “É não tem jeito! È aquilo ou aquilo.” Pensa ele. Júlia tenta se acalmar e pensa nas aventuras e loucuras que já tinha feito na adolescência. Enfurnada no carro das amigas com mais um monte de meninas, todas espremidas no banco de trás rindo e bagunçando, indo para shows e baladas. “Calma Júlia! Vai ser uma história e tanto pra contar e rir com as amigas.” Tenta ela se convencer em pensamentos para topar a aventura. O velho abre o porta-malas do carro e começa a empilhar as malas, e realmente para um Fiat 147, tudo aquilo ali e mais os passageiros é muito.
- Quanto tempo mesmo é até o hotel? Pergunta Pablo.
- Ah... De carro uns 20 minutos, de pé uns 50, acho. Tem o morro, sobe desce, vira à esquerda e já tamo lá.
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- Morro? Pergunta o reflexivo Pablo balançando a cabeça.
- Ah, num é grande não, num tem asfarto é na terra mesmo, meio escuro e com mato, mas tem perigo não. As palavras do velho parecem a gota d´água, Júlia irritada esbraveja consigo mesma:
- Por que eu não olhei direito o despertador daquele maldito celular! Por quê? Por que eu não sentei ao lado de uma pessoa normal? Assim não estaria aqui!
- Ahhh e o porquê eu não sentei do lado de alguém que saiba usar um celular? Rebate Pablo irritado ao se virar e ficar olhando direto para a mulher.
- Ah então a culpa é minha, né!
- Você só reclama moça! Nunca vi, viu! Desabafa o rapaz dando as costas pra mulher.
- Júlia! Eu tenho nome viu, senhor Pablo. Resmunga a mulher, agora mais contida por se dar conta que está brigando desnecessariamente com um desconhecido, afinal sua reclamação foi apenas um desabafo consigo mesma, falado em voz alta, devido ao estresse daquele dia cansativo. Pablo para de caminhar e a princípio espanta-se pelo fato da moça saber o seu nome, mas aí se lembra do episódio da passagem de ônibus e continua a ir em direção ao carro levando as malas do velho barrigudo.       
- Hihihi... O casar brigando até parece eu e minha véia! Carma, logo chegamos no hoter. Fala o velho rindo e balançando a cabeça. Júlia sente vontade de esganar o velho, por ele achar e dizer que ela forma um casal Pablo. Um homem magro e estranho, com uma capacidade inacreditável de irritá-la com cada gesto e palavra de fazia e dizia.
Pablo ajuda o velho a acomodar as malas no Fiat 147, quando ao inclinar-se para ajeitar uma das malas o frasco branco de remédio cai de seu bolso aos pés de Júlia, que se aproximava para guardar sua bagagem. Sem pensar muito, num gesto intuitivo ela se abaixa para recolher, quando ao ver o frasco, inesperadamente uma lembrança vem a sua mente. Ela está deitada em uma cama e chora muito, ao seu lado, na cabeceira da cama, do lado de um copo de água e de um frasco de remédio tarja preta para dormir, o mesmo frasco branco. Idêntico a aquele, agora em suas mãos, um remédio conhecido e bem forte usado no tratamento de crises para ansiedade. Ela entrega o frasco para Pablo que percebe a reação estranha da mulher. Um jeito aflito e estranho, como o de quem lembra uma coisa muito ruim, uma mistura de surpresa e pavor em uma mesma feição de rosto.
- Obrigado. Eu vivo deixando tudo cair. Fala Pablo um pouco envergonhado.
- Eu já percebi. Diz Júlia de forma suave com um pequeno sorriso.
- Eu já to parando de tomar este remédio, quase nem uso mais. Diz o rapaz sentindo a necessidade de se explicar, diante do claro reconhecimento do remédio demonstrado involuntariamente pela mulher. Pablo sabe que há um grande preconceito das pessoas em geral em relação a tratamentos e tipos de remédios relacionados com problemas emocionais devido à falta grande de informação das pessoas. Ele fica em dúvida se aquela reação por parte de Júlia ao reconhecer o frasco de remédio, seria por preconceito, ignorância ou se ela por algum motivo já tinha usado o mesmo tipo de medicação. O rapaz então se lembra de sua resistência em aceitar a medicação quando o médico a prescreveu. Uma relutância tola e insensata que foi bem combatida com muitas explicações e paciência por parte de seu médico e de seu melhor amigo. “Larga de ser um troglodita machão e imbecil! Você não é assim. Hellow! Século vinte e um. E vai tomar o remédio sim! Ou eu vou dá chilique!” Pablo sorri ao lembrar-se do amigo Felipe, que é intitulado por si mesmo de Phill.
- Pronto! Tudo guardado é só seguir agora! Diz o velho ao bater a porta do porta-malas depois de guardar a mala de Júlia. Ele dirige-se ao lado do motorista e entra no carro velho, Júlia e Pablo ficam indecisos para saber quem vai primeiro, até que ele toma a iniciativa, abre a porta e se espreme no banco do carona. Mais uma vez estariam ambos sentados um do lado do outro, dividindo um aperto ainda maior. Ela do lado de fora do Fiat 147 e ainda segurando a sua grande
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 bolsa colorida, percebe que esta não teria espaço naquele banco e pela porta do carona joga-a para trás do veículo junto com o restante das outras malas. Delicadamente ela se senta ao lado de Pablo e vai se aproximando lentamente até perceber que teria que quase sentar no colo do rapaz para que a porta possa fechar.
- Você pode ir mais para o lado? Por favor. Diz a mulher incomodada a Pablo.
- Não dá, senão vou atrapalhar o motorista.
- Eita moça, seria meió a senhora ir no colo do seu marido.
- Eu estou bem assim. Responde Júlia agarrada com as duas mãos na porta do carro e sentada de forma completamente desconfortável. O senhor coloca a chave na ignição, a gira, o carro faz um barulho alto e seco, mas não pega. Ele tenta de novo, e nada, Júlia já começa a ficar impaciente com aquela situação, o velho tenta mais uma vez e finalmente o carro pega e sai fazendo barulho pela rua escura em meio aquela noite fria e nublada.
O Fiat 147 acelera pela rua esburacada chacoalhando e rangendo muito, Júlia sente que a qualquer momento o carro pode se desintegrar e reluta em acreditar que aquilo está acontecendo realmente com ela. Pablo diante daquela rua escura e do farol fraco do carro já começa a passar mal, sentindo-se como que se estivesse lentamente abandonando aquela realidade rumo a um buraco infinitamente escuro. É quando mais uma das reclamações desnecessárias e um tanto mimadas de Júlia o trás de volta ao aperto dentro do Fiat 147.
- Será que você realmente não consegue ir mais para o lado! Fala a irritada mulher.
- Meu colo está disponível, e você já o conhece muito bem! Diz o incomodado Pablo.
- Ah... Vai... E se enxerga rapaz!
- Você só sabe reclamar, nunca vi! Fala o rapaz pausadamente. Júlia a princípio fica envergonhada com o puxão de orelha, mas logo se irrita mais, achando-o abusado e inconveniente. “Ahhh, quem esse cara estranho acha que é?” Pensa ela virando o rosto para Pablo e observando o matagal escuro pela janela. O velho debruçado sobre o volante dirige atentamente pelas ruas escuras rindo calado das rusgas do casal. De repente o carro começa a ranger mais do que o de costume, e a andar mais lentamente. O Fiat 147 começa a subir uma ladeira não muito íngreme, mas quase intransponível para o velho e pesado veículo. Pablo não consegue parar de pensar como aquela mulher ao seu lado, jovem bonita e independente pode se desequilibrar tanto assim. Deixando de encarar os problemas de forma objetiva e passando a ser tão visceral, só reclamando, reclamando, inutilmente por coisas tão bobas. Aí, ele se dá conta que, embora seus problemas não fossem tão tolos, ele ainda estava preso aos acontecimentos ruim da vida. Reclamando, reclamando, não para o mundo, mas para si mesmo, remoendo, revivendo, sendo visceral, e também de forma inútil. E percebe que a vida é como aquele carro, andando agora por um caminho difícil, escuro e íngreme, carregando bagagens pesadas e a mercê dos acontecimentos. Mas uma hora a estrada muda, a noite amanhece, a subida desce e a estrada fica plana, fácil. O velho segue pisando fundo, levando o acelerador do carro ao limite para que este consiga dar conta da subida. Júlia cansada e nervosa perde-se em seus pensamentos refletindo sobre sua vida, em suas escolhas, e desejando intensamente sua cama, seu quarto. A jovem mulher tem uma vida agitada, não consegue parar de viver intensamente o agora, não consegue parar de trabalhar freneticamente, de correr, de reclamar. Pedindo por um caminho tênue e recusando-o logo em seguida, pra ficar ligada no automático, vivendo sem viver e fugindo de si mesma. A subida termina e o Fiat 147 começa a descer, ganhando mais e mais velocidade num caminho longo e sinuoso. O coração de Júlia vai à boca, quando ela tem a sensação de estar em uma descida de uma monta russa escura. Pablo atento e acompanhando com as curvas como se estivesse dirigindo fica apreensivo. O carro começa a chacoalhar mais e mais, o braço curto do velho motorista briga como pode com o volante grande e marrom.
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- Eita. Tamo pesado, mais tamo velois! Diz o velho rindo bem alto, que segue pisando aos poucos no freio para tentar evitar que o carro ganhe muita velocidade e pra conseguir fazer as curvas. O velho então percebe que o acelerador está agarrado do assoalho do carro. Cada vez mais o senhor pisa mais fundo no freio pra conseguir controlar o carro. Pablo e Júlia vão ficando com mais medo, tanto pela descida quanto pela risada do velho. O velho aperta e aperta o freio e nada, e o carro vai ficando cada vez mais rápido. Com dificuldade e muita força no braço o velho consegue dominar o volante e contornar a curva não tão fechada à frente. Ao fazerem a curva, Pablo é empurrado para cima de Júlia que imediatamente começa a resmungar.  
- Eita! O carro tá indo ladeira abaixo! O acelerado tá preso e tamo quase sem freio! Grita o velho. Júlia arregala os olhos e se agarra a Pablo. Ele sem saber o que fazer apenas olha fixamente para o caminho à frente, rezando para que a ladeira acabe.
- A curva à frente é muito fechada e o barranco é pequeno. Num tem jeito! Vamo ter que pular! E o velho já leva a mão no trinco da porta.
- O que!!! Grita Júlia de olhos bem fechados. Pablo olha em volta desesperado. O velho empurra a porta com força e salta do carro. Ele sai rolando sobre o mato alto. O rapaz olha tudo aquilo, não acreditando. Ele abre a porta rapidamente e com toda a sua força a empurra, no mesmo instante abraça Júlia fortemente e juntos se jogam do veículo. O mato alto a beira da estrada ameniza a queda e eles abraçados saem rolando pelo chão. O Fiat 147 segue reto por mais umas dezenas de metros e ao chegar à curva fechada, passa direto seguindo barranco abaixo. Não há árvores muito grandes à frente e o carro segue pipocando se embrenhando cada vez mais no matagal escuro.




















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sábado, 3 de maio de 2014

CINEMA - O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA 2

Abaixa está um texto com informações sobre o porquê a SONY Pictures decidiu fazer um reboot do Homem-Aranha e uma crítica ao novo filme lançado. Espero que gostem. Abraço. 


Neste dia 1 de maio de 2014 estreou a continuação da série de filmes do mais carismático super-herói dos quadrinhos, Peter Parker, que vem agora no longa “O Espetacular Homem-Aranha 2 – A Ameaça de Electro”. Este é o segundo filme da nova série que é uma reinicialização, ou reboot, da série de filmes iniciada na década passada e dirigida brilhantemente por Sam Raimi. Este diretor foi o responsável pelos três filmes que juntos renderam para a SONY Pictures mais de 3 bilhões de dólares, um verdadeiro sucesso estrondoso. E agora vamos fazer um review dos fatos, lembrar do passado do Herói Aranha no cinema fora das telonas. Após a estreia do terceiro filme da série “Homem-Aranha 3” em 2007, um quarto filme já estava em processo de produção e teria como vilão o Carnificina. Além disso, a atriz Anne Hathaway já estava escolhida para interpretar a Gata Negra. Mas os planos não deram certo. Havia entre outras coisas inúmeras desavenças entre o diretor Sam Raimi e os executivos da SONY. Em Homem-Aranha 3 originalmente apenas o vilão Homem de Areia estava no roteiro dos irmãos Sam e Ivan Raimi. A entrada do vilão Venon no filme foi uma exigência da SONY e causou sérios problemas na adaptação roteiro. O direto Sam Raimi teve que ceder e o filme seguiu como a SONY queria, mas a relação do diretor com a companhia e acabou estremecida. Sem dúvida um vilão como Venon merecia mais destaque no filme, em nenhum momento foi chamado por seu nome original, sendo referido apenas como Eddie Brock. Este terceiro filme apesar de ser o mais rentável da série foi o mais bombardeado pelos críticos, principalmente pelo enredo do roteiro. E realmente as histórias dos vilões não se encaixaram em nenhum momento do filme e acabaram uma atrapalhando a outra. Produzindo um filme corrido e com dramas superficiais. Completamente diferente dos dois primeiros filmes da franquia, que apresentaram excelente enredo com um ótimo desenvolvimento das personagens. Essa primeira série de filmes também tinha alguns problemas de relacionamento no elenco, com rusgas envolvendo os atores principais Tobey Maguire e Kirsten Dunst. Maguire também vinha sofrendo com sérias dores nas costas, decorrentes da exigência atlética na realização das filmagens, cenas em que o herói aparecia sem a mascara. A Sony posteriormente decidiu e divulgou que iria rodar um quinto filme junto com o quarto da série para diminuir o intervalo de lançamento entre as continuações. Isso acabou desagradando o diretor Sam Raimi, que decidiu então abandonar o projeto. A Sony também tem um prazo a cumprir, pois se ficar muitos anos sem lançar um filme do herói aracnídeo perde o direito autoral da marca, que volta para a MARVEL, empresa que agora pertencente a DISNEY. Com inúmeros problemas a SONY decidiu começar um novo projeto pra franquia, formando uma nova equipe e fazendo um reboot com novos conceitos. Foi então que em 2012 foi lançado O Espetacular Homem-Aranha explorando a história dos pais de Peter Parker, e trazendo um lançador de teias construído pelo herói, como acontece nos quadrinhos. Diferente da teia orgânica lançada pelos braços do Aranha na serie anterior de filmes. Tendo como personagens principais Peter Parker e Gwen Stacy interpretados por Andrew Garfield e Emma Stone, respectivamente. Tem direção do inexperiente Marc Webb, que até então não dirigiu nenhum filme de médio ou grande porte. Este filme teve um roteiro simples e bem ortodoxo, trazendo como vilão o Lagarto que é uma mutação do Doutor Connors. O filme foi bem feito, com as cenas de ação bem acabadas, mas estas foram poucas e sem muita empolgação. Talvez devido a um menor tempo de produção que o filme teve. O filme ficou muito aquém do primeiro filme da trilogia anterior, dando menos importância a morte do tio Bem Parker do que devia, e fugindo um pouco da história dos quadrinhos, mas passou longe de dar prejuízo. 

E depois da longa história, voltamos a 2014 com o tão aguardado segundo filme da nova série, “O Espetacular Homem-Aranha 2 – A Ameaça de Electro”. Este é uma continuação e traz o mesmo elenco principal e a mesma direção que o primeiro filme da série, além do ator Jamie Fox interpretando o vilão Electro. Harry Osborn personagem tão importante na primeira trilogia, interpretado majestosamente por James Franco, agora volta à trama. E é interpretado pelo jovem ator Dane DeHaan, que em minha opinião deixa a desejar. As inúmeras cenas de ação mostradas nos vários trailers são de tirar o fôlego, criando altas expectativas aos amantes dos filmes do herói. E será que o melhor foi guardado para o filme? A resposta é não. Parece que para subir a expectativa e lotar os cinemas, todas as melhores cenas de ação foram reveladas. O que acaba frustrando um pouco o espectador. O filme é uma diversão com um único ponto forte, o acabamento dos efeitos gráficos, estes estão realmente “espetaculares”. O roteiro inicialmente foi escrito por James Vanderbilt, sendo depois reescrito por Alex Kurtzman e Roberto Orci. Acho que a SONY cometeu novamente o erro ocorrido de Homem-Aranha 3, remendando de forma deplorável o que já estava pronto, acrescentando muitos vilões com histórias que acabaram atrapalhando uma a outra. O enredo do roteiro é ruim, e a história se desenrola em sequencias de cenas mal costuradas, o que acaba fragmentando o longa-metragem. O filme tenta em muitas ocasiões explicar detalhes técnicos e tecnológicos que são inexplicáveis e completamente desnecessários, que apenas acabam servindo para confundir o expectador. Sem falar que tentando fugir dos acontecimentos da primeira trilogia, o filme altera completamente a história original dos quadrinhos, e pra pior. Porém, remete-se a história original quando lhe convém, a usando para dar sentido ao enredo do filme. Como pra explicar a relação entre Peter e Harry que simplesmente de repente são melhores amigos. O caminho percorrido pelo vilão Duende Verde na trama é uma história completamente diferente da original, e fica muito aquém desta. Com o excesso de personagens, estes acabam ficando superficiais e a história acaba se perdendo. Além disso, o confronto final herói-vilão (Aranha-Electo) não é o clímax do filme, sendo mal contado e deixando muito a desejar. O auge do filme embora siga os quadrinhos, acaba não se encaixando na trama e fica parecendo completamente sem sentido. A minha nota para o filme é 4.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Livro - Silenciosamente, Amor! Cap.I

Silenciosamente, Amor!



"Escrevendo um livro, chamado "Silenciosamente, Amor!" que será postado conforme escrevo. É um romance com muito drama ambientado na nossa realidade crua e violenta, onde duas pessoas muito traumatizadas, Pablo e Júlia, se encontram ao acaso e à partir dali nunca mais serão os mesmos".   





CAPÍTULO I - OCASIONALIDADES


Em uma rodoviária repleta de pessoas carregando malas e mochilas para todos os lados, crianças chorando, idosos perdidos, funcionários das empresas já estressados com o frenético movimento de pessoas, ônibus partindo e chegando a todo instante, uma tarde de caos. Ela, com os cabelos encaracolados e castanhos levemente tingidos de loiros, corre arrastando uma mala com rodinhas com o braço direito e carregando no ombro esquerdo, tentando não deixar cair uma enorme e pesado bolsa colorida.
 - Com licença! Por favor, licença! Calma senhora! Ela aflita e com pressa corre para não perder o ônibus. Seus cabelos bagunçados coem sobre o seu rosto e entram em sua boca diante da respiração ofegante da jovem mulher. Em seu rosto traços fortes e cansados que somem diante do caos daquele terminal rodoviário lotado. Ela não muito alta e com um sapato vermelho de salto médio tenta em vão avistar a plataforma 36 para ver se seu ônibus ainda está por lá. Já nervosa com aquela situação, já cansada da correria, pois havia aqueles minutos, feito mais exercício físico do que o mês inteiro que passou. “Preciso emagrecer urgente! Um metro e sessenta e três centímetros, sessenta e oito quilos, Trinta e dois anos. Meu Deus!” Pensou ela enquanto limpava o suor da testa.
- Ei... Espere! Ainda não! Grita a mulher acenando para o ônibus da plataforma 36, que já estava fechando a porta. O motorista ao ver a mulher pisa no freio e torna a abrir a porta, ela acelera o passo e fica ainda mais ofegante. O motorista acena com a mão apressando a mulher, que fecha a cara prestes a xingar o homem, mas mal conseguia respirar, quanto mais xingar. Aos trancos e barrancos a mulher chega à porta do veículo, enfia a mão com força no bolso da calça e retira a sua passagem de embarque. Respira fundo, ajeita o cabelo e sobe de vagar os degraus do ônibus, entregando a passagem ao motorista sem olhá-lo. Ele retira a sua via e devolve o canhoto pra mulher, que adentra pelo corredor apertado do veículo arrastando a sua mala. Todas as poltronas estavam cheias de passageiros, afinal era véspera de feriado, alguns encaram a mulher por ter feito o motorista esperar, outros dormem e roncam como se estivessem em suas casas. Ela olha a passagem, buscando visualizar o número da poltrona, o motorista já atrasado acelera fazendo curvas bruscas, tudo começa a chacoalhar. Ela, naquele corredor apertado e escuro, respira fundo se segurando como pode, até que visualiza o número 44, ou seja, última fileira de assentos e ao lado do banheiro.
- Oi, com licença. Diz ela a um rapaz que está sentado ao lado da janela, assim que chega a última fileira de poltronas. O rapaz ameaça cumprimentar a moça, mas olhando pra frente, para o vazio, exprime apenas um gesto tímido e quase imperceptível com a cabeça. Ela olha para o número da poltrona, marcado no bagageiro acima, desejando que aquela não seja a poltrona número 44. Pois, não lhe parecia prudente sentar do lado daquele homem estranho, magro, com a aparência doente, usando uns óculos com uma das lentes quebradas no canto e com a roupa toda amassada. Os números das poltronas estão meio apagados, mas ela consegue visualizá-los, <3/44, diante daquele ônibus lotado era a única poltrona disponível, ou seja, ela teria q sentar ali, afinal eram quase três horas de viagem. O rapaz se move na poltrona, mostrando-se completamente desconfortável, quando ela se senta ao seu lado. A jovem mulher percebe a atitude estranha do homem e resolve manter certa distancia cruzando os braços, mas a poltrona pequena não ajudaria muito. “É... Afinal serão muitos minutos aqui, só me resta dormir, antes que esse doido diga algo, mas duvido que faça isso, parece que está morrendo de medo de mim.” Pensa a mulher, que em seguida retira seu smatphone da grande bolsa colorida, vai até a função
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alarme as pressas e sem verificar muita coisa, coloca pra despertar dali a duas horas e vinte minutos. Tempo excelente para um cochilo e enfim descansar daquela viagem de trabalho maluca e desgastante, pois, mal tinha conseguido dormir na noite anterior.

- Oi linda, meu nome é Alex! E o seu? Pergunta um homem alto, forte e moreno de olhos verdes ao chegar ao lado, e bem pertinho do ouvido de uma moça de cabelo claros e encaracolados. Ela está em pé no balcão de um bar conversando feliz com a amiga e vira-se rapidamente meio sem jeito, para ver quem está falando, quando se depara com um belo e sensual sorriso.
- Meu nome é Júlia! Diz ela sorrindo também.
- Oi, e o meu é Meg. Responde a amiga ao lado.
- E o que duas moças tão belas fazem sozinhas em um bar? Esperando o namorado?
- Não! Só tomando uma cerveja pra se distrair um pouco. Responde Júlia ajeitando o cabelo.
- Uma loira e uma morena, tão bonitas assim, dando sopa em um bar... Cuidado tem muito garanhão a solta por aí!
- É... Já percebi. Diz Meg, e todos riem...
Júlia e Alex caminham pelo gramado do parque, rodeados por lindas flores, ela não consegue tirar os olhos daquele sorriso lindo, daqueles olhos castanhos claros, meio esverdeados diante daquele gostoso sol de uma tarde de primavera. Ele olha pra frente, imponente, com seu peito largo e esguio, até que se dá conta que está do lado da moça e rapidamente desvia o olhar e a abraça. Depois acaricia com suas grandes mãos o rosto da moça, beijando-a suavemente.
- Te amo! Minha linda! Diz Alex a namorada, que se enche de felicidade. Ela lembra-se do tempo que tinha demorado para aquele homem maravilhoso cair em seu destino. Júlia quase aos 30, já estava desistindo de encontrar a pessoa certa, quando de repente, em um simples barzinho, aquele lindo homem sussurrou em seu ouvido.
- To com fome meu amor! Hoje você paga, tá! De novo né! E Alex sorri para a moça, abraçando-a bem forte...

O ônibus antigo permanece parado na plataforma, muitas pessoas descem e motorista aflito tenta dar conta daquela bagunça na frente da porta do veículo, bagagens sendo retiradas, pessoas pedindo informação. E lá no fundo do ônibus, na ultima fileira de poltronas, um homem magro de óculos e de lindos olhos azuis, está aflito sentado na poltrona ao lado da janela. Ele leva a mão aos olhos, esfregando-os e bagunçando os seus óculos, o homem jovem está suando e desconfortável produz um grunhido baixo ao limpar a garganta. “Ah-ahhhh.” Insiste ele, mas a mulher de cabelos aloirados ao seu lado continua dormindo profundamente, como se estivesse sonhando com o paraíso. O homem fecha os olhos, agarra-se a poltrona suando frio, e respirando pesadamente, era como se ele estivesse preso em um cubículo escuro, cercado por paredes grossas de concreto. Mas não, estava ele ao lado de uma jovem mulher, em uma poltrona apertada, nos fundos escuros de um ônibus, sobre uma noite nublada. O rapaz olha para os lados, sem ver como sair dali. “Não há como sair! Pular pela poltrona da frente! Talvez, mas não... é apertado de mais. Pedir licença, acordar a mulher ao seu lado! Impossível ela está imóvel. Pular por cima dela! Não sei... Não consigo!!!” Os pensamentos frenéticos e desconexos, dominavam a cabeça do rapaz, que permanece imóvel. Ele enfia a mão no bolso da calça rapidamente e pega um frasco redondo de comprimidos, abre-o as pressas e com dificuldade tenta tirar um comprimido. O nervosismo o domina e ele acaba virando o frasco diretamente na boca engolindo à seco seu medicamento. Alguns comprimidos caem em seu colo, mas são ignorados pelo rapaz que fecha o frasco rapidamente e devolve-o ao bolso da calça. Ele permanecendo imóvel e de olhos fechados tenta acalmar-se respirando profundamente, pensando em coisas suaves e
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tranquilizantes, mas a aflição permanece. Aos poucos ele vai se acalmando e depois de alguns minutos imóvel sua respiração segue normal e tranquila.      
Um homem magro, de óculos e olhos azuis caminha por um corredor pequeno, ele carrega consigo uma pasta marrom e grossa em uma das mãos e várias sacolinhas plásticas de mercado na outra mão. Ele para em frente ao apartamento 43 e desajeitado retira as chaves do bolso. Segurando tudo aquilo, ele tenta em vão abrir a porta do apartamento, fazendo muito barulho com o farfalhar das sacolinhas, quando de repente, em um único estalar a porta se abre por dentro.
- Oi amor! Obrigado. Estou carregado aqui. Diz o homem a linda e loira mulher de olhos azuis que abre a porta. Ela sorri sem graça para o rapaz e ele percebe que os olhos dela estão vermelhos e mareados.
- O que foi amor? Tava chorando? O homem entra preocupado no minúsculo apartamento, coloca as sacolas e a pasta sobre a mesa da cozinha que está próxima, coloca as chaves sobre a mesinha da sala de estar e dá um beijo rápido em sua mulher. “O que aconteceu?” Pergunta ele.
- Pablo. Hoje levei os exames ao médico.
- Ué. Mas já tinha feito?
- Fiz na semana passada, não disse pra não te deixar ansioso, preocupado.
- Bobeira, se tivesse dito eu iria com você meu bem. Ele com seus polegares enxuga as  lágrimas da mulher e a abraça.
- Assim, como é normal em minha família, eu também to com ele. O homem fica surpreso e abraça ainda mais forte a esposa.
- Não fala isso! Não pode ser! Você se cuida, e está tão bem! Joanna meu amor, não diz isso! Os olhos do homem enchem de lágrimas e seu rosto é tomado por um semblante triste e carregado. Pablo acaricia as costas da combalida mulher que chora em seu ombro, os óculos do jovem homem enrosca nos cabelos loiros de Joanna e diante do movimento brusco caem no chão...
          
- Parabéns Juh!
- Oi Meg! Obrigado. Entra tá todo mundo aí! As amigas se abraçam e Meg entra na casa da radiante Júlia. A sala está cheia de gente, uma música alta e animada ecoa pela grande casa, bebidas, petiscos, pizzas adornam aquela comemoração feliz. 
- Nossa! Tão pouco tempo, que legal amiga! Noivarem assim, do nada, parabéns!
- Ah, não foi tão do nada assim, estamos falando disso faz tempo, você sabe, é minha melhor amiga. Fala Júlia.
- Não Juh, eu sei, É só modo de dizer. Você merece amiga! E Meg impaciente abraça Júlia.
- E também, não é bem um noivado, nem marcamos data ainda, é só mais uma festa para os amigos e chegados pra avisar que pretendemos logo nos casar. Fala Júlia muito feliz.
- E o Alex. Cadê? Pergunta Meg a amiga.
- Ah, não sei. Essa casa é tão grande, muitos quartos, tá por aí com a galera, ele já tá bem alegre. Você sabe, se tem bebida ele enche a cara! Diz Juh à amiga. E a festa continua rolando com música alta, muito rapazes fazem competição pra ver quem bebe cerveja mais rápido. No canto escuro do corredor, um casal de jovens está aos beijos e amaços quentes no embalo da música alta e dançante. Alguns minutos se passam, Júlia se diverte muito com os amigos, quando um deles aparece pulando, gritando e segurando uma garrafa de cidra de maça em uma das mãos e duas taças de plástico na outra. “Se é um noivado tem que ter brinde com Champagne e braços entrelaçados!” Todos riem com a brincadeira, amontoados e segurando nos ombros de Júlia todos vão a procura do noivo. Muitos continuam curtindo a festa sem se dar conta do ocorrido, outros já bêbados tentam acompanhar a bagunça pelos corredores da casa, mas não conseguem.
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Todos procuram Alex na cozinha, nos banheiros, na varanda, nos quartos mais próximos até só restar a último quarto, o de Júlia e do futuro noivo. Ela vai à frente, seguida dos amigos e da bagunça, o som alto e dançante domina o corredor apertado, feliz e influenciada pela bagunça dos amigos ela abre a porta do seu quarto bruscamente e invade o cômodo. Júlia fica imóvel, em choque, todos os amigos atrás dela mudam de uma felicidade contagiante e barulhenta, para um silencio mórbido e espantoso. Debruçada sobre a cama com a saia erguida na cintura, sem calçinha e com seus cabelos negros e esvoaçantes, está Meg. Alex embriagado, com as calças na altura do joelho e de camiseta, à segura por trás firmemente e tem uma das mãos embrenhadas em seus cabelos, em uma clássica cena de sexo selvagem. Meg rapidamente se joga em baixo dos lençóis cobrindo o seu corpo, Alex meio sem saber o que está acontecendo se vira em direção à porta com o pênis ereto e sem camisinha. Ao ver todos ele empalidece. Júlia fica enojada, não acreditando no que está diante de seus olhos, os amigos boquiabertos, permanecem calados. Mil coisas vêm à mente da jovem, as primeiras carícias, o primeiro beijo com Alex, o dia em que se conheceram. E uma lembrança cruel, a amiga Meg ao seu lado naquele bar, sorridente e também enfeitiçada pelo sorriso largo e fácil de Alex. Júlia se vira, vai em direção aos amigos empurrando-os, quer por que quer sair daquele quarto, está sufocada, atordoada, o choro comprime a sua garganta, e as lágrimas escorrem pelo seu lindo rosto. Ao passar pela sala correndo, ela tropeça nos fios do aparelho de som, que arrebentam produzindo um estampido ensurdecedor que chama a atenção da festa toda. Alex desajeitado ergue as calças e sai correndo do quarto, passa pela fileira de pessoas pasmas, enquanto que Júlia já está no portão em prantos, ela o escancara com força e corre para a rua. Alex corre atrás dela gritando por seu nome, quando vê ainda do quintal, dois faróis ofuscantes contornarem a esquina. Júlia atônita, de cabeça baixa não consegue perceber o risco que está correndo e continua a correr. Quando ela percebe a luz amarela e forte, vira a cabeça para o lado, e seu coração palpita freneticamente.  Em um tempo infinitamente grande e pequeno ao mesmo tempo um turbilhão de sonhos e lembranças vem a sua mente, entre estes está a imagem de um lindo bebê de olhos verdes e cabelos escuros. O carro à acerta e a jovem cai desacordada diante dele...

As luzes dos faróis dos carros na estrada entram pela janela do ônibus e incomoda a moça de cabelos encaracolados que dorme na poltrona ao lado do banheiro, seu sangue parece congelar em seu corpo e ela acorda de súbito e aflita.  O velho ar condicionado diante da noite fria parecia funcionar perfeitamente, ela olha para o lado e lá está o rapaz estranho ainda imóvel na poltrona. A jovem mulher retira do bolso da fina blusa seu smartphone e olha as horas, tomando um susto ao ver o horário.
- Caramba! Não pode ser! Ela retira o cinto de segurança e caminha pelo corredor do veículo em direção ao motorista.
- Senhor. Ainda não chegamos à cidade? Pergunta ela, estranhando o jovem magrela que conduz o ônibus.  
- Senhora faz tempo que já passamos da cidade, umas duas horas.
- O quê! Não pode ser! Eu nem fui avisada.
- Senhora eu troquei com o motorista lá, avisei várias vezes o destino. A senhora é quem tinha que saber onde ia descer. Fala o motorista de forma desdém. Júlia fica irritada, não acreditando no que estava acontecendo. Ela estava cansada e ansiosa pra chegar em casa, tomar um banho quente e relaxante, dormir enfim uma noite inteira. E agora tinha passado de seu destino estando nem se sabe aonde ainda cansada em com sono, embora tenha dormido por quatro horas direto.
- Motorista falta muito pra chegar á próxima cidade? Pergunta Júlia respirando fundo pra se acalmar.   
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- Uns vinte e poucos minutos. A mulher vira as costas e sai furiosa pelo corredor do ônibus, se segundo como pode para não cair com os solavancos. Ao chegar a sua poltrona se joga sobre esta despertando o rapaz ao seu lado, que abre os olhos calmamente e se ajeita vagarosamente na poltrona.
- Droga! Não acredito que passei mais de duas horas do meu destino. Inferno! Resmunga Júlia. O rapaz ao seu lado olha no relógio com dificuldades devido à escuridão. Ela ao perceber que ele está acordado resolve acender a luz sobre o acento e começa a revirar a sua grande e colorida bolsa, que agora está em seu colo. O rapaz magro, que veste uma jaqueta de couro marrom escuro, percebe o estado de irritação da mulher ao revirar a bolsa. Ele está meio sonolento e tem a boca seca e amarga, e ao ver a bagunça dentro da bolsa daquela mulher ao seu lado, lembra que no bolso direito de sua jaqueta tem uma caixinha de chicles. Ele tomando cuidado para não acertar o braço na mulher, se espreme na poltrona até conseguir retirar a caixinha e sem perceber derruba um papel que estava em seu bolso. Ele abre a caixinha e lá está apenas o último chicle, coloca-o na boca e por instantes sente o gosto doce e azedo de morango, sentindo-se aliviado em acabar com aquele gosto horrível em sua boca. Júlia nota que o homem derrubou algo do bolso sem perceber, o papel azul cai ao chão e a jovem abaixa para pegá-lo. É o recibo da passagem rodoviária. Ela ao pegá-lo, involuntariamente, apenas porque tinha algumas palavras escritas, acaba lendo o nome do passageiro, a origem e o destino, iluminados por aquela luz fraca acima. O nome estava escrito com garranchos e o sobrenome estava rasurado. “Pablo” foi a única coisa que Júlia consegui ler do nome do rapaz. Já o campo destino daquela passagem deixou a moça intrigada, era o mesmo que o seu e estava duas horas e tanto pra trás.
- Desculpe, mas caiu do seu bolso. Diz a mulher entregando a passagem a Pablo. O rapaz surpreso agradece fazendo um gesto coma cabeça e pega a passagem.  
- Obrigado! Diz depois ele, tímido e com uma voz baixinha.
- Desculpe de novo, mas eu vi o destino do senhor, ficou lá atrás, era o mesmo que o meu.
- Ah, sim. Você tava dormindo e eu não conseguir descer...
- Oi? Não entendi. Júlia fica surpresa com o que ouviu e fica apreensiva. Pablo tenta desconversar e sabe que não deveria ter dito aquela frase, mesmo sendo a verdade.
- Eu... Depois meio que cochilei também. 
- Se você tava acordado porque não me chamou? Assim teríamos decido os dois. Diz a mulher irritada.
- Eu chamei você estava dormindo pesado, parecia meio...
- Drogada! Por que se você me chamou e eu não acordei!
- Não. É... Parecia meio cansada. E eu também não chamei tão alto assim.
- Que tipo de retardado perde o destino porque tem alguém dormindo ao seu lado? - fala Júlia baixinho, quase que num pensamento alto, depois nervosa ela sobe o tom. - Fala sério rapaz! Podia ter me cutucado, passado por cima, chamado alguém, sei lá!
- É... Desculpa, podia, mas... Fala Pablo sem graça, que em seguida boceja de sono. Júlia vê aquele homem estranho ali, e pensa estar do lado de alguém com problemas mentais. Ela percebe que está se exaltando, respira fundo tentando se acalmar, não diz mais nada e apaga a luz acima. Mas, em pensamentos xinga e esbraveja enquanto fecha com rispidez do zíper da bolsa, não acreditando no dia de azar que está tendo. Júlia segue emburrada sentada ao lado de Pablo que mais uma vez boceja e acha melhor também encerrar a conversa, diante da brava moça de cabelos encaracolados.



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