quarta-feira, 1 de maio de 2013

Poesias baratas - Demônios no Rio

 Estas palavras foram escritas em momento muito conflituoso e difícil da minha vida. Na época, considerava que tinha dentro de mim três demônios.  Estes demônios eram meus maiores medos, sentimentos encarcerados, rancor, arrependimento, e muito mais, tudo  isso me consumia. Foi de repente que eu consegui perceber estes seres que se alimentavam de minha infelicidade. E hoje sei que a batalha só começou a ser vencida quando passei a enxergá-los, sabia quem eram, o que eram, e pra onde me levariam. Olhar o meu pior lado de frente e decidir enfrentá-lo, isso mudou a minha vida. A primeira parte do texto foi escrita no pior momento, quando descobri meus demônios e achei que perderia, a segunda parte foi escrita quando decidi encará-los. Hoje estes estão vencidos, mas as vezes eles voltam a me assombrar. E nunca tive coragem de postar este texto, talvez medo dos demônios, medo de mostrar um lado pessimista meu. Mas sou eu... Fui eu... Faz parte de mim.

Demônios no Rio


Estou em um rio de areia movediça,
Prestes a me afogar.
Eu vejo meus sonhos e desejos
Pelas margens passar,
O rio flui tranquilo...
 A me carregar.

Neste curso previsível e monótono,
Eu não mais quero estar.
Quanto mais me debato,
Mais para o fundo ei de escorregar.
 Perdi-me nessas águas
 Que deixo por inércia me levar.

Às vezes, crio forças,
E pra margem tento nadar.
Sufoco-me, grito, a raiva me toma
E não consigo escapar.
Meus demônios agarram meu corpo
E para o fundo insistem em me puxar.

Eles se alimentam de meus medos e frustrações,
Eu cabisbaixo não ouso os encarar.
 Eles estão ali, eu finjo que não os vejo,
Mas eles insistem em me atormentar.
O rio corre rápido, e algum dia,
No mar há de desaguar.

Lá, a praia é distante,
 Só me restará chorar.
As margens parecem tão perto
Que às vezes eu sonho alcançar.
Não vejo saída, não há escolha,
Se não, continuar.

As cordas que me jogam, eu não às vejo.
As margens se estreitam, eu não estendo a mão.
Se o rio fica raso, eu não levanto.
Estou perdido em mim mesmo, rodeado de ilusão.
A luz do meu caminho está me segando.
Eu olho desesperado pra todos os lados e só vejo escuridão.

Neste rio que me arrasta, só há o que levo comigo,
E tudo isso parece se desfazer.
Pego minhas lembranças e elas escorrem entre meus dedos,
Não as quero, mas elas definem o meu ser.
Estou destruído, estilhaçado,
 Lutando, para neste rio, não desaparecer.

A luz me toma e eu mergulho fundo,
Buscando meus demônios encontrar.
Eles me cercam, me machucam, estou desarmado!
Uns dos outros estão a se alimentar.
O medo me domina, o rio fica gelado, meus olhos vacilam.
Vasculho o meu peito, pra minhas armas pegar

Luto empunhado com a coragem
Disposto a carne do inimigo, cortar.
Mas eles resistem, são fortes, meu sangue os alimentam
Eles me puxam, fico tonto, vão me arrastar!
Uma mão me segura, eu olho. E a esperança é quem vejo.
Volto à tona, sei que mais fracos, os demônios, hão de ficar.

O rio ainda me arrasta,
Mas ainda posso respirar.
Meus demônios estão mais fracos,
Mas ainda vivos. Conseguem me segurar.
Um dia, após muitas batalhas,
E antes do mar eu avistar. Ei de me libertar.