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Livro - Silenciosamente, Amor!



"Escrevendo um livro, chamado "Silenciosamente, Amor!" que será postado conforme escrevo. É um romance com muito drama ambientado na nossa realidade crua e violenta, onde duas pessoas muito traumatizadas, Pablo e Júlia, se encontram ao acaso e à partir dali nunca mais serão os mesmos".   

CAPÍTULO I - OCASIONALIDADES

Em uma rodoviária repleta de pessoas carregando malas e mochilas para todos os lados, crianças chorando, idosos perdidos, funcionários das empresas já estressados com o frenético movimento de pessoas, ônibus partindo e chegando a todo instante, uma tarde de caos. Ela, com os cabelos encaracolados e castanhos levemente tingidos de loiros, corre arrastando uma mala com rodinhas com o braço direito e carregando no ombro esquerdo, tentando não deixar cair uma enorme e pesado bolsa colorida.
 - Com licença! Por favor, licença! Calma senhora! Ela aflita e com pressa corre para não perder o ônibus. Seus cabelos bagunçados coem sobre o seu rosto e entram em sua boca diante da respiração ofegante da jovem mulher. Em seu rosto traços fortes e cansados que somem diante do caos daquele terminal rodoviário lotado. Ela não muito alta e com um sapato vermelho de salto médio tenta em vão avistar a plataforma 36 para ver se seu ônibus ainda está por lá. Já nervosa com aquela situação, já cansada da correria, pois havia aqueles minutos, feito mais exercício físico do que o mês inteiro que passou. “Preciso emagrecer urgente! Um metro e sessenta e três centímetros, sessenta e oito quilos, Trinta e dois anos. Meu Deus!” Pensou ela enquanto limpava o suor da testa.
- Ei... Espere! Ainda não! Grita a mulher acenando para o ônibus da plataforma 36, que já estava fechando a porta. O motorista ao ver a mulher pisa no freio e torna a abrir a porta, ela acelera o passo e fica ainda mais ofegante. O motorista acena com a mão apressando a mulher, que fecha a cara prestes a xingar o homem, mas mal conseguia respirar, quanto mais xingar. Aos trancos e barrancos a mulher chega à porta do veículo, enfia a mão com força no bolso da calça e retira a sua passagem de embarque. Respira fundo, ajeita o cabelo e sobe de vagar os degraus do ônibus, entregando a passagem ao motorista sem olhá-lo. Ele retira a sua via e devolve o canhoto pra mulher, que adentra pelo corredor apertado do veículo arrastando a sua mala. Todas as poltronas estavam cheias de passageiros, afinal era véspera de feriado, alguns encaram a mulher por ter feito o motorista esperar, outros dormem e roncam como se estivessem em suas casas. Ela olha a passagem, buscando visualizar o número da poltrona, o motorista já atrasado acelera fazendo curvas bruscas, tudo começa a chacoalhar. Ela, naquele corredor apertado e escuro, respira fundo se segurando como pode, até que visualiza o número 44, ou seja, última fileira de assentos e ao lado do banheiro.
- Oi, com licença. Diz ela a um rapaz que está sentado ao lado da janela, assim que chega a última fileira de poltronas. O rapaz ameaça cumprimentar a moça, mas olhando pra frente, para o vazio, exprime apenas um gesto tímido e quase imperceptível com a cabeça. Ela olha para o número da poltrona, marcado no bagageiro acima, desejando que aquela não seja a poltrona número 44. Pois, não lhe parecia prudente sentar do lado daquele homem estranho, magro, com a aparência doente, usando uns óculos com uma das lentes quebradas no canto e com a roupa toda amassada. Os números das poltronas estão meio apagados, mas ela consegue visualizá-los, <3/44, diante daquele ônibus lotado era a única poltrona disponível, ou seja, ela teria q sentar ali, afinal eram quase três horas de viagem. O rapaz se move na poltrona, mostrando-se completamente desconfortável, quando ela se senta ao seu lado. A jovem mulher percebe a atitude estranha do homem e resolve manter certa distancia cruzando os braços, mas a poltrona pequena não ajudaria muito. “É... Afinal serão muitos minutos aqui, só me resta dormir, antes que esse doido diga algo, mas duvido que faça isso, parece que está morrendo de medo de mim.” Pensa a mulher, que em seguida retira seu smatphone da grande bolsa colorida, vai até a função
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alarme as pressas e sem verificar muita coisa, coloca pra despertar dali a duas horas e vinte minutos. Tempo excelente para um cochilo e enfim descansar daquela viagem de trabalho maluca e desgastante, pois, mal tinha conseguido dormir na noite anterior.

- Oi linda, meu nome é Alex! E o seu? Pergunta um homem alto, forte e moreno de olhos verdes ao chegar ao lado, e bem pertinho do ouvido de uma moça de cabelo claros e encaracolados. Ela está em pé no balcão de um bar conversando feliz com a amiga e vira-se rapidamente meio sem jeito, para ver quem está falando, quando se depara com um belo e sensual sorriso.
- Meu nome é Júlia! Diz ela sorrindo também.
- Oi, e o meu é Meg. Responde a amiga ao lado.
- E o que duas moças tão belas fazem sozinhas em um bar? Esperando o namorado?
- Não! Só tomando uma cerveja pra se distrair um pouco. Responde Júlia ajeitando o cabelo.
- Uma loira e uma morena, tão bonitas assim, dando sopa em um bar... Cuidado tem muito garanhão a solta por aí!
- É... Já percebi. Diz Meg, e todos riem...
Júlia e Alex caminham pelo gramado do parque, rodeados por lindas flores, ela não consegue tirar os olhos daquele sorriso lindo, daqueles olhos castanhos claros, meio esverdeados diante daquele gostoso sol de uma tarde de primavera. Ele olha pra frente, imponente, com seu peito largo e esguio, até que se dá conta que está do lado da moça e rapidamente desvia o olhar e a abraça. Depois acaricia com suas grandes mãos o rosto da moça, beijando-a suavemente.
- Te amo! Minha linda! Diz Alex a namorada, que se enche de felicidade. Ela lembra-se do tempo que tinha demorado para aquele homem maravilhoso cair em seu destino. Júlia quase aos 30, já estava desistindo de encontrar a pessoa certa, quando de repente, em um simples barzinho, aquele lindo homem sussurrou em seu ouvido.
- To com fome meu amor! Hoje você paga, tá! De novo né! E Alex sorri para a moça, abraçando-a bem forte...

O ônibus antigo permanece parado na plataforma, muitas pessoas descem e motorista aflito tenta dar conta daquela bagunça na frente da porta do veículo, bagagens sendo retiradas, pessoas pedindo informação. E lá no fundo do ônibus, na ultima fileira de poltronas, um homem magro de óculos e de lindos olhos azuis, está aflito sentado na poltrona ao lado da janela. Ele leva a mão aos olhos, esfregando-os e bagunçando os seus óculos, o homem jovem está suando e desconfortável produz um grunhido baixo ao limpar a garganta. “Ah-ahhhh.” Insiste ele, mas a mulher de cabelos aloirados ao seu lado continua dormindo profundamente, como se estivesse sonhando com o paraíso. O homem fecha os olhos, agarra-se a poltrona suando frio, e respirando pesadamente, era como se ele estivesse preso em um cubículo escuro, cercado por paredes grossas de concreto. Mas não, estava ele ao lado de uma jovem mulher, em uma poltrona apertada, nos fundos escuros de um ônibus, sobre uma noite nublada. O rapaz olha para os lados, sem ver como sair dali. “Não há como sair! Pular pela poltrona da frente! Talvez, mas não... é apertado de mais. Pedir licença, acordar a mulher ao seu lado! Impossível ela está imóvel. Pular por cima dela! Não sei... Não consigo!!!” Os pensamentos frenéticos e desconexos, dominavam a cabeça do rapaz, que permanece imóvel. Ele enfia a mão no bolso da calça rapidamente e pega um frasco redondo de comprimidos, abre-o as pressas e com dificuldade tenta tirar um comprimido. O nervosismo o domina e ele acaba virando o frasco diretamente na boca engolindo à seco seu medicamento. Alguns comprimidos caem em seu colo, mas são ignorados pelo rapaz que fecha o frasco rapidamente e devolve-o ao bolso da calça. Ele permanecendo imóvel e de olhos fechados tenta acalmar-se respirando profundamente, pensando em coisas suaves e
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tranquilizantes, mas a aflição permanece. Aos poucos ele vai se acalmando e depois de alguns minutos imóvel sua respiração segue normal e tranquila.      
Um homem magro, de óculos e olhos azuis caminha por um corredor pequeno, ele carrega consigo uma pasta marrom e grossa em uma das mãos e várias sacolinhas plásticas de mercado na outra mão. Ele para em frente ao apartamento 43 e desajeitado retira as chaves do bolso. Segurando tudo aquilo, ele tenta em vão abrir a porta do apartamento, fazendo muito barulho com o farfalhar das sacolinhas, quando de repente, em um único estalar a porta se abre por dentro.
- Oi amor! Obrigado. Estou carregado aqui. Diz o homem a linda e loira mulher de olhos azuis que abre a porta. Ela sorri sem graça para o rapaz e ele percebe que os olhos dela estão vermelhos e mareados.
- O que foi amor? Tava chorando? O homem entra preocupado no minúsculo apartamento, coloca as sacolas e a pasta sobre a mesa da cozinha que está próxima, coloca as chaves sobre a mesinha da sala de estar e dá um beijo rápido em sua mulher. “O que aconteceu?” Pergunta ele.
- Pablo. Hoje levei os exames ao médico.
- Ué. Mas já tinha feito?
- Fiz na semana passada, não disse pra não te deixar ansioso, preocupado.
- Bobeira, se tivesse dito eu iria com você meu bem. Ele com seus polegares enxuga as  lágrimas da mulher e a abraça.
- Assim, como é normal em minha família, eu também to com ele. O homem fica surpreso e abraça ainda mais forte a esposa.
- Não fala isso! Não pode ser! Você se cuida, e está tão bem! Joanna meu amor, não diz isso! Os olhos do homem enchem de lágrimas e seu rosto é tomado por um semblante triste e carregado. Pablo acaricia as costas da combalida mulher que chora em seu ombro, os óculos do jovem homem enrosca nos cabelos loiros de Joanna e diante do movimento brusco caem no chão...
          
- Parabéns Juh!
- Oi Meg! Obrigado. Entra tá todo mundo aí! As amigas se abraçam e Meg entra na casa da radiante Júlia. A sala está cheia de gente, uma música alta e animada ecoa pela grande casa, bebidas, petiscos, pizzas adornam aquela comemoração feliz. 
- Nossa! Tão pouco tempo, que legal amiga! Noivarem assim, do nada, parabéns!
- Ah, não foi tão do nada assim, estamos falando disso faz tempo, você sabe, é minha melhor amiga. Fala Júlia.
- Não Juh, eu sei, É só modo de dizer. Você merece amiga! E Meg impaciente abraça Júlia.
- E também, não é bem um noivado, nem marcamos data ainda, é só mais uma festa para os amigos e chegados pra avisar que pretendemos logo nos casar. Fala Júlia muito feliz.
- E o Alex. Cadê? Pergunta Meg a amiga.
- Ah, não sei. Essa casa é tão grande, muitos quartos, tá por aí com a galera, ele já tá bem alegre. Você sabe, se tem bebida ele enche a cara! Diz Juh à amiga. E a festa continua rolando com música alta, muito rapazes fazem competição pra ver quem bebe cerveja mais rápido. No canto escuro do corredor, um casal de jovens está aos beijos e amaços quentes no embalo da música alta e dançante. Alguns minutos se passam, Júlia se diverte muito com os amigos, quando um deles aparece pulando, gritando e segurando uma garrafa de cidra de maça em uma das mãos e duas taças de plástico na outra. “Se é um noivado tem que ter brinde com Champagne e braços entrelaçados!” Todos riem com a brincadeira, amontoados e segurando nos ombros de Júlia todos vão a procura do noivo. Muitos continuam curtindo a festa sem se dar conta do ocorrido, outros já bêbados tentam acompanhar a bagunça pelos corredores da casa, mas não conseguem.
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Todos procuram Alex na cozinha, nos banheiros, na varanda, nos quartos mais próximos até só restar a último quarto, o de Júlia e do futuro noivo. Ela vai à frente, seguida dos amigos e da bagunça, o som alto e dançante domina o corredor apertado, feliz e influenciada pela bagunça dos amigos ela abre a porta do seu quarto bruscamente e invade o cômodo. Júlia fica imóvel, em choque, todos os amigos atrás dela mudam de uma felicidade contagiante e barulhenta, para um silencio mórbido e espantoso. Debruçada sobre a cama com a saia erguida na cintura, sem calçinha e com seus cabelos negros e esvoaçantes, está Meg. Alex embriagado, com as calças na altura do joelho e de camiseta, à segura por trás firmemente e tem uma das mãos embrenhadas em seus cabelos, em uma clássica cena de sexo selvagem. Meg rapidamente se joga em baixo dos lençóis cobrindo o seu corpo, Alex meio sem saber o que está acontecendo se vira em direção à porta com o pênis ereto e sem camisinha. Ao ver todos ele empalidece. Júlia fica enojada, não acreditando no que está diante de seus olhos, os amigos boquiabertos, permanecem calados. Mil coisas vêm à mente da jovem, as primeiras carícias, o primeiro beijo com Alex, o dia em que se conheceram. E uma lembrança cruel, a amiga Meg ao seu lado naquele bar, sorridente e também enfeitiçada pelo sorriso largo e fácil de Alex. Júlia se vira, vai em direção aos amigos empurrando-os, quer por que quer sair daquele quarto, está sufocada, atordoada, o choro comprime a sua garganta, e as lágrimas escorrem pelo seu lindo rosto. Ao passar pela sala correndo, ela tropeça nos fios do aparelho de som, que arrebentam produzindo um estampido ensurdecedor que chama a atenção da festa toda. Alex desajeitado ergue as calças e sai correndo do quarto, passa pela fileira de pessoas pasmas, enquanto que Júlia já está no portão em prantos, ela o escancara com força e corre para a rua. Alex corre atrás dela gritando por seu nome, quando vê ainda do quintal, dois faróis ofuscantes contornarem a esquina. Júlia atônita, de cabeça baixa não consegue perceber o risco que está correndo e continua a correr. Quando ela percebe a luz amarela e forte, vira a cabeça para o lado, e seu coração palpita freneticamente.  Em um tempo infinitamente grande e pequeno ao mesmo tempo um turbilhão de sonhos e lembranças vem a sua mente, entre estes está a imagem de um lindo bebê de olhos verdes e cabelos escuros. O carro à acerta e a jovem cai desacordada diante dele...

As luzes dos faróis dos carros na estrada entram pela janela do ônibus e incomoda a moça de cabelos encaracolados que dorme na poltrona ao lado do banheiro, seu sangue parece congelar em seu corpo e ela acorda de súbito e aflita.  O velho ar condicionado diante da noite fria parecia funcionar perfeitamente, ela olha para o lado e lá está o rapaz estranho ainda imóvel na poltrona. A jovem mulher retira do bolso da fina blusa seu smartphone e olha as horas, tomando um susto ao ver o horário.
- Caramba! Não pode ser! Ela retira o cinto de segurança e caminha pelo corredor do veículo em direção ao motorista.
- Senhor. Ainda não chegamos à cidade? Pergunta ela, estranhando o jovem magrela que conduz o ônibus.  
- Senhora faz tempo que já passamos da cidade, umas duas horas.
- O quê! Não pode ser! Eu nem fui avisada.
- Senhora eu troquei com o motorista lá, avisei várias vezes o destino. A senhora é quem tinha que saber onde ia descer. Fala o motorista de forma desdém. Júlia fica irritada, não acreditando no que estava acontecendo. Ela estava cansada e ansiosa pra chegar em casa, tomar um banho quente e relaxante, dormir enfim uma noite inteira. E agora tinha passado de seu destino estando nem se sabe aonde ainda cansada em com sono, embora tenha dormido por quatro horas direto.
- Motorista falta muito pra chegar á próxima cidade? Pergunta Júlia respirando fundo pra se acalmar.   
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- Uns vinte e poucos minutos. A mulher vira as costas e sai furiosa pelo corredor do ônibus, se segundo como pode para não cair com os solavancos. Ao chegar a sua poltrona se joga sobre esta despertando o rapaz ao seu lado, que abre os olhos calmamente e se ajeita vagarosamente na poltrona.
- Droga! Não acredito que passei mais de duas horas do meu destino. Inferno! Resmunga Júlia. O rapaz ao seu lado olha no relógio com dificuldades devido à escuridão. Ela ao perceber que ele está acordado resolve acender a luz sobre o acento e começa a revirar a sua grande e colorida bolsa, que agora está em seu colo. O rapaz magro, que veste uma jaqueta de couro marrom escuro, percebe o estado de irritação da mulher ao revirar a bolsa. Ele está meio sonolento e tem a boca seca e amarga, e ao ver a bagunça dentro da bolsa daquela mulher ao seu lado, lembra que no bolso direito de sua jaqueta tem uma caixinha de chicles. Ele tomando cuidado para não acertar o braço na mulher, se espreme na poltrona até conseguir retirar a caixinha e sem perceber derruba um papel que estava em seu bolso. Ele abre a caixinha e lá está apenas o último chicle, coloca-o na boca e por instantes sente o gosto doce e azedo de morango, sentindo-se aliviado em acabar com aquele gosto horrível em sua boca. Júlia nota que o homem derrubou algo do bolso sem perceber, o papel azul cai ao chão e a jovem abaixa para pegá-lo. É o recibo da passagem rodoviária. Ela ao pegá-lo, involuntariamente, apenas porque tinha algumas palavras escritas, acaba lendo o nome do passageiro, a origem e o destino, iluminados por aquela luz fraca acima. O nome estava escrito com garranchos e o sobrenome estava rasurado. “Pablo” foi a única coisa que Júlia consegui ler do nome do rapaz. Já o campo destino daquela passagem deixou a moça intrigada, era o mesmo que o seu e estava duas horas e tanto pra trás.
- Desculpe, mas caiu do seu bolso. Diz a mulher entregando a passagem a Pablo. O rapaz surpreso agradece fazendo um gesto coma cabeça e pega a passagem.  
- Obrigado! Diz depois ele, tímido e com uma voz baixinha.
- Desculpe de novo, mas eu vi o destino do senhor, ficou lá atrás, era o mesmo que o meu.
- Ah, sim. Você tava dormindo e eu não conseguir descer...
- Oi? Não entendi. Júlia fica surpresa com o que ouviu e fica apreensiva. Pablo tenta desconversar e sabe que não deveria ter dito aquela frase, mesmo sendo a verdade.
- Eu... Depois meio que cochilei também. 
- Se você tava acordado porque não me chamou? Assim teríamos decido os dois. Diz a mulher irritada.
- Eu chamei você estava dormindo pesado, parecia meio...
- Drogada! Por que se você me chamou e eu não acordei!
- Não. É... Parecia meio cansada. E eu também não chamei tão alto assim.
- Que tipo de retardado perde o destino porque tem alguém dormindo ao seu lado? - fala Júlia baixinho, quase que num pensamento alto, depois nervosa ela sobe o tom. - Fala sério rapaz! Podia ter me cutucado, passado por cima, chamado alguém, sei lá!
- É... Desculpa, podia, mas... Fala Pablo sem graça, que em seguida boceja de sono. Júlia vê aquele homem estranho ali, e pensa estar do lado de alguém com problemas mentais. Ela percebe que está se exaltando, respira fundo tentando se acalmar, não diz mais nada e apaga a luz acima. Mas, em pensamentos xinga e esbraveja enquanto fecha com rispidez do zíper da bolsa, não acreditando no dia de azar que está tendo. Júlia segue emburrada sentada ao lado de Pablo que mais uma vez boceja e acha melhor também encerrar a conversa, diante da brava moça de cabelos encaracolados.



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Livro - "A Chave"



"Escrevendo um livro, chamado "A Chave" que será postado conforme escrevo. É uma ficção científica, ambientada em um futuro não muito distante que trata sobre o que determina o nosso destino, força de vontade, ocasionalidade? Com muitos mistérios, intrigas e muita ação!"

Já estou escrevendo o capítulo 10, estou na página 126 do livro e ainda nem cheguei a metade, heim!
 Capítulos escritos: cap. 10 - Acertos, cap. 9 - O Assassino, cap. 8 - Paixão, cap. 7 - O Encontro, cap. 6 - "Isso não é possível", cap. 5 - Descobertas, cap. 4 - Partindo, cap. 3 - Os Eventos, cap. 2 - Novos Dias, cap. 1 - A Simples Rotina. 

Leiam! Os capítulos 2 e 1 estão postados abaixo do prefácio, não esqueçam de comentar, o que quiserem. Abraços! 



PREFÁCIO

A Chave

“Um simples objeto capaz de abrir portas e portas abertas são destinos traçados, mas o que então define um destino? Eventos aleatórios e sem nenhuma lógica ou um ser superior, intitulado Deus. Uma chave define a porta a ser aberta e assim um destino. Logo as pessoas não são capazes de decidirem seu próprio caminho. Assim até que ponto minha vontade e força para traçar um caminho influenciam meu destino? Será que uma pessoa pode definir seu caminho? A resposta é que nossa vontade é conduzida por nós até ser confrontada com a aleatoriedade do mundo produzindo um evento que define o destino. O final produzido é inesperado e dependente de milhares de variáveis incapazes de serem equacionadas, assim então é definida a aleatoriedade do universo, ou seja, aquilo que não somos capazes de compreender. Quem governa o destino então? Infinitos eventos se iniciando e interferindo uns aos outros, conspirando para o caos, afinal o universo tende sempre ao caos. Mas o que define a existência do universo é a capacidade de dar ordem ao caos. Paradoxo! Não? O caos depende da ordem para existir, pois sem esta não existe o caos, mas a tentativa de ordem por sua vez gera ainda mais caos. Um ciclo vicioso e indefinidamente contínuo. O que somos se não o caos organizado, e o que sempre buscamos se não, fazer a organização do caos de nossas vidas, e pra isso geramos mais caos, e esse processo é  contínuo.
Em inúmeras vezes durante a vida ficamos apenas no automático, realizando as tarefas apenas pra dar sequência, sempre almejando um futuro distante e melhor. Quando criança, somos segurados pela rotina da escola, quando adultos pela rotina do trabalho, na aposentadoria pela rotina dos dias monótonos. Quantas vezes não nos pegamos apenas no automático sem questionar sem almejar um futuro mais real e direto que não seja apenas ter segurança financeira e felicidade. O problema é que assim como tudo no universo nossas vidas tendem ao caos, e precisamos dia a dia buscar a ordem e nessa busca que é inatingível geramos mais e mais desordem ao nosso redor. E essa desordem só é percebida quando nos afeta diretamente. Nunca esquecemos nossos sonhos, o problema é que nos perdemos na monotonia, no automático, e acabamos enterrando-os a cada dia, mais e mais fundo, até o tempo cobrar sua conta e minar a coragem. Para realizar basta acreditar, pois isso o leva a fazer, te foca no caminho, você não se dispersa e de repente o que almejou vira realidade. Sorte! Não, isso é acreditar, muitos definem isso como fé, acreditar naquilo que não está diante de você. Acreditar não basta para realizar é preciso respirar isso todos os dias e trabalhar pra isso. Essas são as palavras genéricas de qualquer filosofia de vida sendo esta religiosa ou não. Estão disfarçadas, são dados outros nomes, mas na essência é sempre acreditar e seguir vencendo os obstáculos. O ser humano tende a simplificar tudo, pois assim é mais fácil de enchergar, de entender, e o mais preocupante é que assim fica

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mais fácil de convencer os outros. A sociedade impõe um pensamento único, do qual para um convívio harmonioso todos devem agir segundo os mesmos preceitos, o problema é que somos seres únicos, buscando seu espaço em um mundo que a cada dia fica mais igual. Então ficamos a mercê de vários poderes paralelos e suas divergências, na política, na religião, nas camadas sociais, nos negócios e outras inúmeras formas de grupos e organizações. Nossas vidas acabam se reduzindo a desenvolver uma ocupação que contribua para o bem de todos e de dar prosseguimento a nossa espécie procriando, ficamos reduzidos a abelhas trabalhando pelo bem universal, a colméia.
Ainda vivemos em um mundo apenas dividido em dois, nos que acreditam e seguem em busca de algo maior e nos que não devem acreditar e devem ficar parados desenvolvendo as atividades mais básicas para a sobrevivência do todo. E inconsciente passamos isso sempre adiante acreditando nos velhos preceitos e esperando o algo mais, ficando parado, enterrando os sonhos mais e mais. Inconscientemente ficamos nas mãos dos mesmos acreditando que nossas vidas estão resumidas em trabalhar pra ter dinheiro pra poder comprar aquilo que nos convencem de que precisamos. Produtos novos inúteis que são produzidos por pessoas que realimentam esse sistema cada vez mais. E tudo é aprimorado e você se sente obrigado a comprar sempre a versão top, consumindo inconsciente e deliberadamente. E aí se vai aos poucos os preceitos que realmente valem à pena, e o mundo apenas movido por dinheiro fica como único sentido, e as preocupações reais vão pra debaixo do tapete. E nem se damos conta que esse mundo consumista consome o nosso mundo lá na frente, o nosso planeta sofre, nós sofremos, ação e reação, é a ordem do caos gerando mais caos. Não importa que seja um planeta, uma sociedade, uma espécie, um formigueiro ou onde esteja, aqui ou em outra galáxia a lei é a mesma, evolução. O caos se organizando, evoluindo, e gerando mais problemas que em um futuro serão resolvidos, evoluindo-se.
Por isso os digo, “acreditem em algo mais”, pois estes poucos que acreditam são quem decidem os rumos da humanidade e o rumo está errado! Deixem de ser a abelhas que constroem um mundo no qual uma minoria, muitas vezes privilegiada por isso, é quem idealiza, vamos fazer parte das escolhas de forma ativa e defender um mundo melhor. Sejam a chave do seu destino, abram as portas certas para o futuro de nosso mundo.”


                                                                                        J.F. 






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CAPÍTULO II - Novos dias

Jonas dá um pulo da cama ao ouvir o despertador, levanta todo sorridente e abre a janela, como de costume o barulho infernal dos carros, que nesta manhã nem o incomoda, hoje é o dia receber meu prêmio e conhecer meu ídolo, pensa ele. O banho demorado parece lavar a alma, sua mãe repara na incomum disposição do jovem naquela manhã, ao sair do banheiro enrolado na toalha ele se joga no sofá.
- Caramba em mãe, o monstro do seu chefe nem te liberou pra ir comigo.
- É filho, não tinha ninguém pra me substituir, e a premiação é muito longe do centro da cidade, e já te disse, aonde quer que esteja estarei sempre com você.
- Mas esse cara é um insensível, mesmo.
- Não fale assim graças a ele que você conseguiu a bolsa na escola, e além do mais, essa premiação no meio da semana no horário de expediente é quem tá errada. Certo!
- Seu chefe que arrumou pra eu fazer a prova da bolsa na escola, mais quem passou nela fui eu viu!
- Claro que sei disso, você estudou muito pra passar, agora para de me encher e vai se trocar, é um longo caminho até lá. A mãe do menino joga nele a toalha da mesa que estava em sua mão.   
No coração financeiro da cidade em um dos edifícios mais modernos, num luxuoso e lotado centro de convenções Jonas aguarda sentado na primeira fila, diante dele um enorme palco com o símbolo arredondado de um escorpião circundado por sua calda, e abaixo escrito, “JAY Technologies”. No chão, dezenas de fotógrafos e alguns canais de televisão esperam o astro da tecnologia Michael jay. O garoto fica besta com tudo aquilo, ao seu lado seu amigo não acredita estar em um lugar daqueles, o nervosismo de Jonas atrapalha ele a registrar cada detalhe, e o bilionário já com dez minutos de atrasos. “Será que ele não vem”. É só o que pensa o garoto, é quando um alto som de tambores começa a ecoar, a imprensa se agita e se posiciona, ao lado de Jonas uma mulher responsável pelo evento cochicha instruções em seu ouvido, o som fica mais alto e rápido e uma gravação diz:
- Senhora e senhores, com vocês o mago da tecnologia... Michael Jay! Um homem alto e moreno entra acenando e andando rápido em direção ao microfone no centro do palco, os flashes iluminam o palco os repórteres fazem de tudo para enquadrarem as câmeras.
- Bom dia a todos vocês! O alvoroço toma conta do centro de convenções, todos saldando empolgados o homem, Jonas acha aquilo genial, as palmas, gritos e assovios diminuem, num instante e só a voz firme e afiada de Jay que ecoa pelo vasto salão.
- A JAY Technologies são vocês, esse povo lindo que carrega essa companhia rumo ao futuro. Os gritos recomeçam, Jay agradece cruzando as mãos no peito e curvando-se um pouco pra frente, após os gritos de clamor ele recomeça:

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- Eu, Michael Jay, sou apenas um administrador, cada um que utiliza nossos produtos e ajuda a desenvolvê-los e melhorá-los através das pesquisas de opinião, são os verdadeiros donos dessa companhia, porque o futuro é agora e pertence a todos. Muito à vontade e sorridente Michael leva a mão esquerda ao bolso enquanto gesticula com a direita. O amigo de Jonas eufórico diz a ele:
- Esse cara é fera mesmo, em “J”, bem que disse, nem parece um bilionário famoso.
- É pessoalmente parece ainda mais gente boa. Jay continua o discurso.
- Nossa companhia acredita em um mundo sustentável e na força da tecnologia de informação pra definir a igualdade entre os ricos e os menos favorecidos, tecnologias baratas e ao alcance de todos, assim é o futuro com a JAY Technologies. O homem olha pra baixo no vazio, leva a mão esquerda fechada até a boca, refletindo sobre o mundo e seus problemas e continua:
- Eu acredito em um mundo melhor e mais justo, e sei que acreditar não basta, eu luto por isso, luto junto a vocês pra carregar nossa sociedade a esse mundo melhor. E hoje estou aqui pra dividir com um jovem que também acredita em nossa ideologia, nesse mundo melhor, obrigado Jonas Frederick por acreditar em nós – Jay se curva pra Jonas agradecendo - e agora suba aqui pra pegar seu prêmio. Feliz pelo reconhecimento Jonas caminha em direção ao palco, Jay puxa as palmas, e o garoto também é ovacionado, ao subir no palco Jonas é surpreendido por um grande estrondo vindo do lado de fora, Todos se assustam, pelos vidros do centro de convenções é possível ver a correria do lado de fora. A polícia tenta retirar dezenas de manifestantes que carregam faixas escritas, “JAY MENTIROSO, LADRÃO, EXPLORADOR, JAY TECHNOLOGIES A PODRIDÃO DO MUNDO”, outras faixas já derrubadas pela polícia também insultam o bilionário. A feição de Michael Jay muda, o ódio estampada em seu rosto, mas logo é escondido com um belo sorriso.
- Acalmem-se, por favor! Vamos retomar nossa homenagem, não é por causa de alguns baderneiros que devemos deixar de acreditar em um mundo menor. Ele estende a mão e cumprimenta Jonas, depois lhe dá um abraço.
- Você garoto é literalmente o que leva a nossa companhia pra frente, é nossa recompensa e a prova que estamos no caminho certo, mais uma vez obrigado! Ele puxa uma nova salva de palmas, de cabeça baixa e disfarçadamente olha pro lado de fora do centro de convenções, a tempo de ver a polícia derrubar todas as faixas e prender todos os manifestantes. Jay retira um cheque de dentro do paletó e entrega a Jonas.
- Aqui está seu prêmio, espero que te ajude, quer dizer algumas palavras? Jonas tímido vai ao microfone.

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- Gostaria de agradecer a vocês pelo prêmio e principalmente a minha mãe, quem me ajudou a ser o que sou. Obrigado! Em meio a palmas os dois descem do palco, muitos assessores rodeiam Jay por trás do palco, comentando sobre o protesto, Jonas se sente atrapalhando e se vira pra retornar ao salão.
- Espere garoto! - diz Jay de forma atenciosa, ele deixa os assessores e caminha em direção ao jovem – gostaríamos de ter você trabalhando conosco. Jonas espantado fica sem reação.
- Mas eu? Sorridente Michael leva a mão ao ombro do garoto.
- Nossos produtos precisam de melhorias contínuas, e você teve uma excelente idéia, temos um programa de treinamento e ensino para jovens funcionários, já possuímos dezenas deles trabalhando na criação de novos produtos em nossa matriz.
- Seria a realização de um sonho. O sorriso fica estampado no rosto de Jay.
- Precisamos apenas conversar com sua mãe, e o mais rápido possível pode começar a trabalhar conosco.
- Eu falo com ela, acho que não terá problemas.
- Gostaria de almoçar comigo agora? E depois levo você a sua casa e converso com sua adorável mãe. Jonas não acredita no que ouve.
- Agora! E levar eu lá em casa, nossa! Jay chega ainda mais perto do garoto, e com sua voz envolvente continua:
- Não temos tempo a perder certo.
- Está bem, preciso chamar meu amigo.
- Não, não precisa, eu peço pra alguém levá-lo em casa, espere aqui apenas um instante só preciso falar com meus assessores e já vamos.
 Jonas fica parado esperando, Jay ao longe sorri pro garoto, enquanto ouve seus assessores. Alguns jornalistas deixando o salão passam por “J” comentando:
- Isso na Ásia.
- Mas quem está investigando?
- Parece que ainda ninguém
- Mas organizações não governamentais não podem fazer muito.
- Sim, mas estas acusam a JAY Technologies de incentivar o trabalho escravo em suas fábricas e de despejar resíduos poluentes, vindos de seus processos industriais, em mangues, causando um enorme desastre.
- Então por isso o protesto.
- É acho que sim. E os jornalistas saem por uma porta lateral.

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Jonas confuso, mal tem tempo de digerir o que acabara de escutar e Jay já o segura pelo braço com aquele costumeiro sorriso.
- Vamos! Já está tudo resolvido.    
- Então vamos. Os dois saem do prédio, Jay apressado tenta não deixar Jonas ver o final do tumulto, mas o garoto consegue ver os policiais prendendo alguns dos manifestantes, e uma jovem loira de cabelos curto chama sua atenção, pelo fato de resistir à prisão e tentar se aproximar a qualquer custo da limusine do bilionário. Jay ajuda o jovem a entrar na luxuosa limusine, ele olha a garota loira ao longe com muita raiva, chama um de seus assessores que está ao lado.
- Faça com que essa infeliz fique o maior tempo possível na cadeia!
- Sim senhor. Responde o subordinado. Michael entra no carro e logo oferece um refrigerante a Jonas, ele aceita e fica impressionado com o frigobar instalado no inacreditável automóvel.
- Senhor Jay, minha mãe ainda está trabalhando, teremos que esperar um pouco.
- Não tem problema garoto, diz onde ela trabalha que passamos lá e a pegamos.
- Acho que ela não irá gostar, seu chefe é muito rigoroso.
- Eu o convenço a liberá-la. Jonas toma o refrigerante admirando o otimismo e confiança sempre presente nas atitudes de Jay. A limusine deixa o lindo complexo do evento, passando ao lado dos carros de polícia e Jonas olha por completo o rosto da jovem loira, e tem a certeza que é a garota mais bela que já viu. A jovem algemada olha emburrada para Jonas e grita alguma coisa, mas ele não consegue entender nada.
Na periferia da cidade a limusine preta para diante de fábrica, a fachada do prédio está muito danificada e pichada, a cara de nojo do bilionário fica evidente, mas dá lugar ao sorriso de sempre quando Jonas o olha. Eles saem do carro, o garoto conversa com o porteiro e logo depois eles entram no prédio. Lá dentro vão a sala desorganizada onde um chinês velho e baixinho com muito sotaque os recebe.
- Senhor Shaou gostaríamos de falar com minha mãe. O velho emburrado mal olha para eles.
- Visita aqui não! Sabem disso!Quem deixou o menino entrar? Jay coloca-se a frente do chinês e com toda sua simpatia começa:
- Boa tarde senhor, não deve me conhecer, sou um empresário muito famoso do ramo da informática e tenho grande interesse em falar com a senhora... Ele olha para Jonas.

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-  Elvira. Completa o garoto. A expressão do velho muda e o interesse na conversa agora é outro.
- Não quer contratá-la? Né? Michael abraça o velho de lado, tentando parecer mais simpático.
- Não, claro que não, só preciso que ela seja dispensada agora, pra ter uma conversa.
- Dispensada!
- O senhor fabrica o que mesmo? Muda de assunto Jay.
- Eu fabrico roupas, e de boa qualidade.
- Minha empresa é de outro ramo, mas quem sabe poderíamos... Nós precisamos muito de abrigos e uniformes.
- Está bem podem chamar Elvira eu a dispenso, mas ela vai ter que compensar o tempo perdido, viu. O velho vira as costas e se retira do lugar. Diante da conquista o bilionário sorridente agradece. Jonas e ele entram na linha de costura da fábrica, Elvira trabalha duro cortando um amontoado de tecidos com uma enorme serra, ao ver o filho assusta-se, para o que está fazendo e vai até ele.
- Filho o que faz aqui? Sabe que o senhor Shaou não gosta de interrupções. Ela retira os óculos de proteção e começa a desamarrar o avental, respira fundo e enxuga o suor. Aquele grande galpão barulhento e quente com certeza é o maior desafio naquele trabalho pesado e corrido.
- Calma mãe, o senhor Michael Jay já falou com o senhor Shaou, e ele já a liberou pra irmos pra casa.
- Pra casa, mas como assim?
- Boa tarde senhora Elvira! Sou Michael Jay - apresenta-se o homem estendendo a mão – é um prazer conhecê-la, seu filho já me falou muito da senhora.
- Boa tarde! Como vai. A mulher sem entender o que se passa fica sem palavras, pois pelo o que o filho tinha dito aquele homem era um bilionário dono de um das maiores empresas do mundo, como assim? Pergunta ela a si mesmo.
- Não se preocupe, já falei com seu chefe, está liberada por hoje, gostaria muito de conversar com a senhora sobre o futuro de seu filho.
- Mas como assim... Está bem, então vou me trocar. Ela deixa os dois e vai em direção ao vestiário.
Já dentro da limusine Jay oferece algo pra Elvira beber, ela se sentindo incomodada com o excesso de cortesias agradece pela gentileza, mas não aceita. Jonas como um jovem de dezessete

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anos ainda se sente deslumbrado ao lado do empresário de tecnologia que sempre admirou, Elvira começa a ficar tensa e se perguntando: “Por que este homem bilionário tem tanto interesse em meu filho? ”Ela sabe que seu filho é muito bom diante de um computador, mas o coração de mãe pressente algo errado e desperta a desconfiança.
- Senhora Elvira. A mulher interrompe Jay.
- Não precisa me chamar de senhora, afinal devemos ter quase a mesma idade. Jay apesar de não gostar de ser interrompido, ainda mais depois de ser contradito, mantém o sorriso simpático no rosto.
- Claro. Elvira! Nossa companhia possui um programa de apadrinhamento de jovens talentos da informática do mundo todo, e gostaria que seu filho participasse dele.
- Claro que sim, aposto que é o sonho dele. Só não entendo a urgência. Michael desconsertado sorri mais intensamente.
- Jonas tem muito talento, e esse prêmio é só o começo – ele cruza as penas e coloca a mão no ombro do garoto que está ao seu lado - temos interesse em aproveitar as idéias dele o mais rápido possível, na informática um dia é uma eternidade, por isso estou aqui.
- Claro que sim, não interferindo no horário da escola, e se ele quiser largar seu trabalho de meio expediente, mas não pode ficar sobrecarregado afinal ele precisa estudar também em casa. A simples mulher não se intimida pela figura do bilionário e conversa de igual pra igual.
- Preciso explicar melhor senhora Elvira, quer dizer Elvira – o homem pensativo escolhe as melhores palavras cuidadosamente – é que esse de programa de treinamento da minha empresa, montou uma estrutura ótima em nossa matriz, e para um melhor aproveitamento gostaríamos de levar Jonas até lá, pra usufruir desta.
- Tudo bem não demorando muito, acho que a escola pode dar alguns dias. Jonas fica preocupado com o tom da conversa e com a resposta da mãe.
- Na verdade queremos que Jonas more lá, a estrutura é incrível a senhora, você, pode conhecer, profissionais, dão o suporte que ele precisar. Elvira pensativa não sabe o que dizer, Jonas fica apreensivo.
- Mas morar lá, não posso mudar toda a minha vida pra lá, e ficar dependendo de você.
- Na verdade você não precisa, o projeto agracia apenas o jovem a família não pode ir junto.
- O quê! Deixar meu filho de dezessete anos sozinho longe de casa, não posso concordar.

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- Mas mãe eu vi no site da companhia as instalações, são incríveis, posso continuar meus estudos lá, vai ser ótimo pra mim. Argumenta Jonas, não acreditando nas palavras da mãe.
- Elvira, creio que uma oportunidade destas é única, é o futuro do seu filho que está em jogo. Jonas muito irritado olha a noite cair pela janela da limusine, a cidade começa a iluminar-se e o silêncio impera no carro.
- Posso esperar até amanhã por uma resposta, antes de ir embora da cidade passo aqui pra saber da decisão, sugiro que veja nossas instalações e que se informe um pouco mais. A mulher ouve calada, a limusine encosta na calçada diante de um prédio velho. Jonas chateado despede-se de Jay e sai do carro apressado.
- Muito obrigado por tudo, agradeço a você e a sua empresa, irei pensar com calma. Elvira estende a mão pra Michael e os dois de despedem, ela deixa a limusine e fecha a porta, o homem de semblante carregado respira fundo e limpa a mão no paletó.
Jonas vai direto pro seu quarto e se joga na cama, Elvira pensativa, de vagar entra no apartamento e vai até o quarto do filho, ela bate na porta e não recebe resposta, bate novamente, e nada, então leva a mão à maçaneta, e a porta está trancada. Ela vai a sala e senta-se no velho sofá, o notebook do filho esta sobre a mesa, um computador já bem surrado e repleto de adesivos, desperta o interesse da mulher. Elvira liga o computador, coloca-o no colo, e com dificuldade em lidar com o equipamento, tenta acessar a internet. “Deixa eu ver... era assim que Jonas me mostrou, peraí...” Resmunga ela baixinho. A mãe zelosa começa a digitar e procurar informações sobre o programa e a empresa de Jay. Depois de mais de uma hora na internet e diante do silêncio do filho, Elvira resolve ir a porta do quarto novamente.  
- Filho, preciso conversar com você! Vamos, abra a porta.
- Agora não, vou dormir. Responde Jonas de forma ríspida.
-  Abra filho! Estou pedindo. Irritado ele abre a porta e se joga novamente na cama virando-se para a parede.
- Fale!
- Filho você é ainda muito jovem, nem terminou os estudos, confio em você, mas acho que não é a coisa certa a fazer. Ela senta-se na beira da cama e tenta acariciar o filho, ele se encolhe recusando o carinho da mãe.
- O que é a coisa certa, então? Ficar aqui passando sufoco, vendo a senhora se matar de tanto trabalhar! Jonas altera a voz, e as lágrimas molham seu rosto.
- Eu nunca reclamei de trabalhar. Jonas levanta rapidamente da cama e vai pra janela.
- Não reclama porque é teimosa, mãe sua vida gira em torno de mim, a senhora nem namorado arruma, como quer que eu me sinta, vendo a senhora se acabar pra dar uma vida

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melhor pra nós. Elvira vai até o filho e o abraça por tás, ele chorando fica olhando fixamente pro vazio da noite da imensa cidade.
 - Filho, a muito tempo somos só nos dois, você é tudo que tenho, faço tudo pra que tenha uma vida melhor, mas acho que não será uma boa, esse Michael Jay, não sei algo me incomoda.
- O cara é um gênio, o problema é que muita gente não enxerga isso. Diz o jovem irritado.
- Eu li o jornal recentemente, quando fiquei sabendo do prêmio que tinha ganho, procurei saber sobre esta empresa agora na internet, dizem que este Jay é o gênio do marketing, e faz tudo pra promover sua empresa, e pegar jovens pobres mundo a fora com a desculpa de ajudar, dizem que isso é mais um desses golpes de publicidade. Jonas se revolta e afasta-se da mãe e irritado altera a voz.
- A senhora não sabe o que está falando! São esses bandos de invejosos, que fazem de tudo pra destruir as pessoas de bem.
- Filho a empresa dele está sendo investigado na Ásia, não entendo nada dessas coisas, mas me parece que algo está errado, pois enquanto ele prega um mundo justo e sustentável, a empresa explora mão de obra escrava e destrói o meio ambiente, é o que dizem e isso é muito grave! Fala a preocupada e insegura mãe, pois ela sabe que o filho sempre foi fã de Jay e de sua empresa.
- É tudo mentira! Ele nem ninguém conseguiriam esconder isso, e porque não deu em tudo quanto é lugar, e só uns e outro jornais e TVs de terceira é que noticiam isso, muita gente séria apóia “Jay tech”, ele é bem visto, e ajuda muita gente. O jovem não acredita em que houve da mãe, pois ela está impedindo-o de realizar seu grande sonho.
 - Pode ser filho, mas ele me pareceu uma pessoa muito esnobe, dissimulada, não sei, alguém que só pensa em dinheiro, não gostei dele pessoalmente, e outra coisa esse interesse desmedido por você, não sei!
- Só porque o cara foi sempre rico e educado, todos já o rotulam como esnobe, isso é preconceito. Elvira segura no braço do filho ele se vira e ela olha nos fundos dos olhos dele.
- Eu te amo, filho! Sempre vou querer o seu bem, mas um homem rico não trata dessas coisas pessoalmente, nos trazer aqui, ainda mais de limusine, é estranho, ele deve ter centenas de coisas importantes pra fazer e ainda quer vir aqui pessoalmente pra saber de nossa resposta.
- Mãe, para de ver coisa a onde não existe, ele só está sendo gentil... Tá e se for uma jogada publicitária, eu também vou ganhar com isso, olha a chance que estou tendo.
- Filho, me escuta, eu não quero que você conviva e tenha como exemplo um homem que só pense em dinheiro. O garoto revoltado com as palavras da mãe sai do quarto, passa apressado

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pela sala e deixa o apartamento. Jonas nervoso quase atropela no saguão do prédio um menino que vinha correndo.
- Oi “J” tudo bem? Quer jogar comigo hoje. Diz o menino, mas o jovem não responde e sai do prédio. Apressado e pensando centenas de coisas ele atravessa a esquina e nem percebe que ali, do lado de onde mora na rua de trás um carro preto permanece estacionado com os faróis desligados, ele vai à estação e toma o trem.

Nas ruas escuras e frias da cidade um monte de jovens ao redor de um carro conversam e escutam música eletrônica alta, o som vem do carro vermelho e rebaixado que está com o porta-malas aberto, este por sua vez está em frente de uma lam house de fachada luminosa e bem colorida. Alguns jovens bebem e fumam, muitos deles visivelmente embriagados possuem pouca idade, e curtem a bagunça. Jonas agora tranqüilo dobra a esquina e atravessa a rua em direção a lam house, ele cumprimenta alguns conhecidos do lado de fora e depois entra. O lugar escuro e apertado, cheio de gente, jovens se beijando e dando uns amassos pelos cantos, outros entretidos alucinadamente em seus monitores, jogando os mais variados e demoníacos jogos. A falação e algumas discussões entre garotos que estão jogando entre si, não incomodam Jonas, ele se sente à vontade. Atravessando os corredores apertados Jonas segue caminhando em direção ao fundo do estabelecimento encontrando muitos conhecidos e cumprimentando eles dos  mais variados jeitos. Jonas encontra seus amigos.
- E aí cara apareceu! Nossa, eles levaram eu pra casa num carrão! Fala o amigo que o acompanhou na premiação mais cedo.
- E aí pessoal! Jonas cumprimenta os amigos da escola.
- É galera, o nosso amigo aqui foi almoçar com o bilionário Michael Jay, tá podendo, heim! A galera toda zoa “J”, felizes por ele.
- Vocês já estão jogando?
- Ainda não “J”, estávamos esperando pela estrela! - o amigo bagunça o cabelo de Jonas, que sorri – e aí rolou mais alguma coisa? Um emprego na “JAY Tech”, talvez?
- Rolou nada, o almoço fazia parte do prêmio. Vamos parar de conversa e jogar! Quero ver se me vencem hoje! Todos empolgados partem para as mesas para jogarem. Jonas muito alegre se esquece de tudo quando joga, o garoto foca nos desafios do jogo e não desiste enquanto não vence. Os amigos dele não acreditam nas façanhas que ele faz quando joga, e tentam atrapalhar, bagunçando o cabelo de Jonas, todos muito alegres. Uma garrafa de vinho aparece nas mãos de

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um garoto e logo estão todos bebendo, Jonas também curte o momento e bebe feliz. Uma conhecida da escola se aproxima da mesa onde eles jogam, um dos garotos cochicha algo no ouvido de Jonas, a garota então sorri pra ele, que distraído acaba perdendo pro jogo. Todos zoam ele, uma outra garota toma o lugar de Jonas empurrando-o pro lado e começa a jogar. Jonas se aproxima da recém chegada no grupo e começa a conversar com ela, logo os dois estão no canto beijando-se calorosamente, a fumaça de cigarro deixa uma névoa no ar e a escuridão favorece o clima. A diversão continua enquanto Jonas continua ocupado, muitos jovens bêbados acabam caindo em cima dos computadores e são colocados pra fora. Em frente a lam house a música corre solta, muito barulho e conforme a noite avança o número de jovens aumenta. No fundo da casa de diversão um homem parado, encostado na parede e sozinho observa os jovens atentamente, a escuridão do lugar torna impossível reconhecer alguém mesmo que este esteja a alguns poucos centímetro de você. Jonas feliz continua jogando, a jovem que estava com ele agarra-o por trás e lhe dá um último beijo. Ele para de jogar e insiste para ela ficar.
- Fica aqui! Tá tão bom!
- Eu não posso “J”, minha irmã já esta aí pra me buscar, se me atrasar muito, meu pai nem me deixa sair mais.
- Que pena gata!
- Hah, não faz biquinho, adorei ficar com você, mas preciso ir. Jonas lasca um beijo feroz na garota, ela agarra-o com força e depois de alguns instantes eles se despedem e a garota vai embora. O amigo de Jonas zoa com ele por ter conseguido ficar com a garota, ele se gaba do feito e entra na brincadeira, o amigo com uma garrafa de vinho oferece a Jonas, que recusa.
- Não, valeu, chega de beber, já são dez da noite e amanhã temos aula.
- Nossa! Que garoto responsável. Responde o amigo já bem embriagado.
- Quero chegar antes de minha mãe em casa, hoje ela ajuda lá no asilo, toda semana ela faz isso, vou chegar cedo pra não arrumar confusão, mas ainda temos uma hora paga pra jogar! Os garotos festejam e apressam outro menino que está sentado no computador jogando. Um homem de sobretudo escuro, passa rápido e de cabeça baixa entre Jonas e o amigo, que por estar meio bêbado quase cai em cima da mesa, ele reclama e quer arrumar confusão, mas Jonas sóbrio e tranquilo segura o amigo, o homem segue em frente e logo sai da lam house.
- Caramba, que otário! Quase me derruba, e ainda por cima está fedendo, louco! Diz o amigo de Jonas, que fica observando pra ver se o homem não volta, estranhando a atitude deste, e concorda com o amigo aquele homem tinha um cheiro estranho, um cheiro forte. A galera logo

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se entretém novamente com o jogo, Jonas também se esquece do ocorrido e volta à diversão. O relógio marca onze da noite e pra chegar em casa antes da mãe o garoto despede-se correndo da turma, que tenta segurá-lo, ele escapa e atravessa os corredores lotados. Apressado deixa a lam house em meio a música alta, atravessa a rua e parte em direção a estação de trem.

Jonas desembarca do trem e leva as mãos ao bolso pra protegê-las do frio, caminha até a saída da estação apressado. Na rua vazia o garoto passa por algumas prostitutas que mexem com ele, que sorri e continua em frente, quando vira a esquina por pouco não tromba com um velho.
- Desculpe senhor! Quase que te derrubo. Ele na hora reconhece o velho, é aquele que ele tinha ajudado no assalto no trem.
- Não foi nada filho!
- É o senhor! Como vai?
- Hah, você foi quem me ajudou no trem, oh, eu to bem!
- O senhor foi à delegacia?
- Oh, filho, fui nada, estou tirando outros documentos.
- É quem sabe alguém encontra a carteira e devolve ao senhor.
- Muito difícil, não é filho... Agora preciso correr se não perco o trem, quero chegar logo em casa, nem devia estar na rua uma hora desta.
- Então tchau! Um abraço!
-Tchau, filho. Muito obrigado! Jonas segue apressado, anda por alguns metros quando avista a frente do outro lado da rua um homem de jaqueta preta e gorro empurrando uma mulher contra a parede, a mulher entrega a bolsa mesmo assim o homem a agride. O rapaz grita tentando afugentar o ladrão.
- Ei! Deixe a moça em paz! O homem se assusta, e sai correndo, Jonas corre atrás dele pedindo ajuda, o homem alucinado vira a esquina e encontra o velho na calçada, ele bate o ombro no ancião e joga-o contra a parede, vira em outro quarteirão e desaparece. Jonas vira a esquina e não vê mais o homem, o velho resmungando de dor fica encostado na parede.
- O senhor viu pra onde ele foi? Pergunta o rapaz ofegante.
- Não filho, não vi. Diante da negativa Jonas desiste e ampara o velho.
- Está bem? Está doendo muito?
- Um pouco só, mas vou ficar bem! Era ele filho, o cheiro é inesquecível! Jonas não entende, o que o velho quer dizer.
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- O senhor o conhece?
- Não, graças a Deus não, mas o cheiro ruim de sangue, tenho certeza foi o mesmo homem que me assaltou aquele dia no trem, tenho certeza. O rapaz fica intrigado com as revelações do velho.
- Tem certeza senhor?
- Filho eu não o enxerguei aquele dia, e agora só vi o vulto negro, mas tenho certeza esse cheiro ruim é o mesmo.
- O senhor quer te ajude, quer que te acompanhe? 
- Não filho, estou bem, pode ir. Por um instante, diante daquela revelação, o jovem esquecera-se da mulher que foi assaltada, mas logo volta pra ajudar. Ele retorna pelas ruas, a noite parece ainda mais fria, distante ele vê três pessoas tentando socorrer uma mulher. A indignação pela covardia do ladrão cresce enquanto ele se aproxima, logo ali dois quarteirões de seu prédio, um homem aflito fala no celular, uma mulher ajoelhada pressiona o abdômen da vítima, Jonas apressa-se, e quando se aproxima mais, reconhece a vítima, é sua mãe! Ele corre desesperado.
- Mãe! Não! Jonas se joga no chão e vê sua mãe pálida e ensangüentada.
- Não! Não! Cadê a ambulância! Grita ele.
- Já está a caminho! Responde o homem que estava no celular.
- Calma filho, vou ficar bem! Diz com dificuldade Elvira.
- Vai sim mãe! Vai sim! Jonas chorando muito ajeita a cabeça de sua mãe em seu colo e acaricia seu rosto. A mulher assustada e também chorando pressiona o ferimento com as duas mãos.
- Foi um assalto, o homem lhe deu uma facada! Meu Deus! Fala a mulher nervosa.
- Mãe, desculpa por brigar com a senhora! Me perdoa!
- Não foi nada...  Você é o melhor filho do mundo! Sussurra Elvira, Jonas desesperado leva a mão à boca da mãe.
- Não fale mãe! Não fale! Ele beija o rosto gelado da mulher e a aperta firme tentado aquecê-la, a ambulância vira a esquina, Jonas se enche de esperança e enxuga o rosto que estava molhado por lágrimas, os paramédicos chegam e iniciam o resgate, Jonas então dá um ultimo beijo na mãe, e deixa os paramédicos se aproximarem. A cena triste comove todos à volta, sem soltar a mão da mãe, o jovem tenta não atrapalhar os apressados e cuidadosos médicos. Elvira muito mal olha e sorri com o canto da boca pro filho. Eles entram na ambulância fria, Jonas só consegue observar o rosto lindo e ávido da mãe. A ambulância apressada logo vira a esquina e

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deixa o local. Jonas sentado ao lado da mãe fica imóvel e calado, o tempo parece estacionado, as imagens diante de seus olhos estão borradas e o seu coração palpitante parece estar sendo arrancado do sei peito, a boca seca o estômago apertado, as mãos trêmulas. Quando se dá conta ele está em um corredor insuportavelmente branco e limpo. Jonas muito aflito aguarda em pé, com as mãos entrelaçadas levadas a boca e os olhos mareados de lágrimas, ele fecha os olhos e o que vê é o belo sorriso tranquilisador da mãe. Logo uma enfermeira atravessa a porta e dirige-se até o garoto, ele abre os olhos com o coração acelerado querendo saltar pela boca, seu corpo imóvel e adormecido, ele acompanha cada detalhe dos passos da enfermeira que se aproxima, ele neste instante deseja que o corredor nunca acabe para aqueles paços, que se aproximam mais e mais, a parede o agarra e o domina... 
- Desculpe filho, os médicos tentaram de tudo, mas ela não resistiu. Jonas desaba no chão desesperado as palavras o engasga, o choro o sufoca, a enfermeira tenta ampará-lo, ele inconformado senta-se abraçando as pernas, de cabeça baixa, e o choro alto e seguido de soluços ecoa pelo corredor.









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CAPÍTULO I - A simples rotina

Um homem negro e magro percorre com pressa um corredor longo e estreito, a luz branca irrita um pouco seus olhos, ele observa as dezenas de salas divididas por paredes de vidro, as pessoas entretidas em seus computadores super avançados nem percebem a inquietação do rapaz, ele afrouxa um pouco o colarinho e foca na ultima sala, a sua frente, chegando ao final da porta ele respira fundo. “Srº Montagner” está escrito na porta, também de vidro, que se abre.
- Senhor, desculpe atrapalhar... Mas é que... Ele carregando seu mini computador tablet em uma das mãos gesticula aflito.
- Diga logo analista Cortez! O homem de meia idade continua olhando pra tela do seu computador, e diante do silêncio do rapaz ele retira os óculos, coloca-o na mesa, cruza os braços e encara o subordinado.
- Meu tempo é curto! Diga... Logo!
- É que... A equação Alfa foi satisfeita!
- O quê! - Ele se levanta rapidamente e puxa o tablet da mão do rapaz – Por que não fui avisado? O alarme não soou!
- Senhor. Estamos re-configurando o sistema de alarmes, hoje estamos sem o sistema, mais assim que recebi o arquivo corri pra lhe informar, mas acho...
- Todas as palavras-chaves foram satisfeitas de forma direta? O homem interrompe e recoloca os óculos, observa o texto folheando as páginas digitais.
- Não, 70% apenas estão presentes diretamente, o restante está de forma indireta, o programa marca apenas as palavras-chaves de forma direta.
- Não precisa dar detalhes de um programa que eu mesmo idealizei. Diz o homem com o semblante carregado.
- Desculpe senhor! O homem ignora o rapaz que fica envergonhado.
- As informações estão em seu terminal?
- Sim, senhor. Mas acho que deveria... O homem se senta vai à sua tela touch screen, e com um toque rapidamente procura o terminal do rapaz. “Cortez”. Ele toca e começa a redirecionar os arquivos pro seu computador. Rapidamente os arquivos são carregados e abertos.
- Onde o colocou? Pergunta o homem, o rapaz sem graça diz:
- Estava tentando dizer... É que estou no modo remoto srº Montagner, ainda não deve ter sido atualizado! O homem fulmina o rapaz com o olhar, respira fundo balançando a cabeça e sem fazer questão de olhar pro rapaz, leva a mão a um pequeno suporte ao lado de seu monitor, ele encaixa um dedal estranho, de forma gelatinosa no dedo indicador e o leva até o tablet, toca a tela do aparelho no nome do arquivo “A Chave”. Uma luz azul se acende pisca duas vezes e fica vermelha, ele leva o dedal ao seu monitor, clica duas vezes em um pequeno ícone e uma luz vermelha se acende, esta pisca duas vezes e fica azul. O homem com o arquivo carregado em seu monitor começa a manipular as informações. Ele olha o rapaz parado a sua frente, que sem saber o que fazer fica imóvel.
- Quantos casos nível Alfa nos temos abertos no momento?
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- Apenas dois, senhor, mas já são antigos e ainda não obtivemos nada - responde o rapaz todo saudoso – Um deles tem um ano e um mês e o outro oito meses.
- Dê prioridade a este novo caso. Alguma informação dos “Premunitores”?
- Não senhor Montagner, nada foi previsto, o arquivo “A Chave” foi descoberto pelo programa espião de cruzamento de dados, também foi idealizado pelo senhor.
- Qual a fonte do arquivo?
- Nossos sites gratuitos de relacionamento, estes são um sucesso com os jovens, bela jogada do pessoal da criação. O rapaz dá um sorriso malicioso.
- Pode dizer que esse não foi idéia minha, Cortez. O rapaz encabulado gagueja.
- Desculpe... Se... Senhor!
- Não fique sem graça, sei que estou ficando pra traz, por isso 85% dessa empresa é formada por jovens, vocês são as mentes que alimentam a INFOR&Tec, mas quem aponta o caminho sou eu! Cortez abaixa a cabeça, gesticulando com esta e sinalizando que entendeu o recado.
- O nome do rapaz é Jonas Frederick, se denomina “J.F.” parece que não é muito criativo em pseudônimos, e está bem perto de nós. O homem abre uma janela em se monitor.
- Vejamos! Nenhuma correlação com outros casos alfas ou betas, parece estar isolado, ou perdemos algo no processo. Coloque-o em investigação intensa, vasculhe tudo e me mantenha informado.
- Sim senhor! Aplicaremos código laranja, se ele souber de algo nós também saberemos. Com licença.
- Cortez! - o rapaz se vira rapidamente – Bom trabalho! Mas ainda espero muito mais de você.
- Obrigado, senhor! O rapaz fica pensativo e sai da sala devagar tentando entender se acabara de ganhar um elogio ou uma advertência e conhecendo o chefe como conhecia por precaução ficou com a segunda opção.
Montagner entra no perfil da rede de relacionamento de Jonas Frederick e observa suas fotos, murmurando baixinho.
- Dezessete anos, escrevendo reflexões tão profundas, nessa idade eu só pensava em garotas e bebidas, essa juventude. Ele balança a cabeça e dá um sorriso de lado.
Em uma tarde quente de uma rua movimentada, carros por todos os lados, pessoas apressadas e um garoto passa velozmente desviando das pessoas na calçada em cima de seu skate, ele recebe muitos xingos de pedestres que quase são atropelados, o garoto astuto, pula pra avenida deslizando entre os carros parados no engarrafamento. O garoto assovia o tempo todo pedindo passagem, carregando uma mochila, vestindo shorts, camiseta e tênis, com joelheiras, cotoveleiras e capacete, ele realiza as atrevidas manobras desafiando com muita habilidade os
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obstáculos. Um Carro atravessa o sinal vermelho, obrigando o garoto a desviar rapidamente, ele
acerta a guia, sendo arremessado pra frente e caindo na calçada, as pessoas ao redor ficam pasmas.
- Ai! Meu ombro!Ele se levanta atordoado, e cambaleante é amparado por uma senhora.
- Você é louco, garoto! Pode ter quebrado o braço!A senhora irritada o empurra e sai resmungando.
- Obrigado pela ajuda! Diz o garoto com um ar irônico e morrendo de dor no ombro, torto e ainda meio atordoado, ele ajunta o skate e vê que o eixo foi arrancado da prancha, ele olha direito e vê a prancha rachada.
- Perdi meu transporte! Reclama ele baixinho, e segue pela calçada, cabisbaixo.
O jovem atravessa uma rua movimentada e suja e entra em um prédio velho, sobe as escadas sendo cumprimentado por um garotinho.
- E aí “J”, caiu de novo? Ele murmura algo e continua subindo, no terceiro andar apanha as chaves na mochila e entra no apartamento 32, as portas velas e rabiscadas revelam o abandono e simplicidade do lugar, ele joga a mochila no sofá, que está rasgado na lateral e vai pra cozinha.
- Oi filho! - uma mulher o olha de cima a baixo – Não! De novo Jonas, qualquer dia desses você se mata menino! A mulher pega o skate e joga-o na lata de lixo, vai até o armário e pega uma caixa de curativos.
 - Mãe! Já disse pra não ficar me chamando de menino, eu já tenho dezessete! Jonas abra a geladeira, pega uma garrafa de suco coloca-a no ombro, vai até a sala e se joga no sofá.
- Se você se comporta como um menino, sai pela cidade em cima desse troço! Isso desta vez vai ficar jogado no lixo, ouviu! A mulher tira a camisa do jovem e começa a limpar os ralados ele reclama muito da dor enquanto bebe o suco na garrafa. Sua mãe faz os curativos rapidamente, guarda a caixa de primeiros socorros e volta pra cozinha.
- “J” a comida ta pronta, se vira aí que tenho que trabalhar. Ela retira o avental, ajeita o cabelo no vidro do armário, e vai ao banheiro, enquanto isso Jonas vai a lata de lixo, pega o skate e começa a reavaliar, depois ele joga novamente na lata de lixo, volta ao sofá e se joga.
- Fiquei sem skate! O jovem emburrado se deita no sofá entre as almofadas. Sua mãe volta à sala carregando sua bolsa e desperta o filho com um beijo no rosto muito corrido e desajeitado.
- Tchau, filho vê se toma jeito e não fica muito no seu computador! Jonas com um sorriso tímido despede-se da mãe, que logo deixa o apartamento. O jovem fica por uns minutos descansando no sofá, depois mesmo todo dolorido dá um salto do sofá, e logo se arrepende resmungando e levando as mãos nos ferimentos. Em seu quarto pequeno e bagunçado liga o computador e corre pra internet. Abre várias janelas, sites de relacionamento, e-mails, de notícias, ele muito a vontade logo esquece de vez o incômodo dos machucados, coloca os fones
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de ouvidos e se diverte com os joguinhos agitados e complicados.
A noite chega e o barulho infernal do trânsito diminui, o vento frio entra pela janela, Jonas deixa o computador e na janela do quarto observa as luzes da cidade, por uns instantes fica pensando nos rumos de sua vida. Como todo jovem confuso e indeciso prestes a finalizar os estudos e sem saber o que fazer pra construir um futuro e ajudar sua mãe que sempre fez tudo por ele. Jonas é um jovem muito alegre e esforçado, tem no exemplo da mãe a garra e honestidade, seu pai abandonou a família quando o jovem tinha apenas oito anos. As poucas lembranças do pai não são muito felizes, ao contrário do exemplo de força da mãe, que sempre colocou o filho em primeiro lugar. Aos dezessete anos Jonas teve que argumentar muito com a mãe pra poder trabalhar por meio período e em dias alternados depois da escola. Aos trinta e oito anos a senhora Frederick não se casou novamente depois de ser abandonada, tendo poucos namorados, a educação e conforto do filho consumiram os anos de juventude dela. “J” sempre adorou computadores sendo web designer freelancer, ajudando a construir blogs e páginas de pequenos comércios como pizzarias, mercearias e trabalha como garçom em um restaurante. Um jovem sonhador, este é “J”, esperando um dia ser um grande programador e web designer, um desenvolvedor de sites curtido pela galera, ganhar muito dinheiro e ser feliz. Sua maior esperança no momento era ganhar um concurso de um grande site famoso, no qual teve que desenvolver ferramentas específicas para a galera teen, seu projeto já tinha sido escolhido como um dos cem melhores, e já tinha ganhado um ano grátis de acesso aos jogos de uma das maiores empresas de tecnologia da informação do mundo, a “JAY Technologies”. Empresa esta, tendo como maior acionista um presunçoso e badalado empresário, Jonas sonhava em um dia ser como este empresário e acompanha diariamente a página de relacionamento do bilionário. Na janela o jovem observa a lua entre os prédios por algum instante e depois a fecha. O computador apita, é um amigo teclando.
- Falaí J!Blz. Não apareceu lá na LAN hoje, pq? Ele se senta na frente do computador e começa a teclar com o amigo.
- Blz, ñ fui pq caí de skt, to todo ralado, meio dolorido pra jogar.
- Nossa! Vc vive caindo poraí, tá perdendo pro skt! rsrsrs.
- Q isso!Ainda so fera! Essa rua q é muito doida, mas amanha to lá.
-To zuando, sei q é fera no skt, mas sua mãe tem razão, essa cidade ñ tem nem espaço pros carros e pra galera, quanto + pra skt. Então blz nos vemos amanha, agora vou sair com aquela mina da escola, falooo!
- Blz! Amanha acabo com vc de novo no jogo. “J” fecha as janelas de bate papo, as janelas dos joguinhos e entra em um site pornô. O jovem coloca o fone e começa a clicar nos vídeos, acha um melhor que o outro, muitas mulheres nuas.
- Nossa! Essa tá perdida! Sussurra ele, aos poucos vai se empolgando e começa a se
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masturbar. Na sala sua mãe abre a porta chegando da rua e chamando pelo filho, deixa a bolsa na mesa da sala e vai a geladeira, tira um prato pronto enrolado por filme, desenrola e coloca no microondas.
- “J”, cheguei! Já jantou? Grita ela da cozinha, sem ouvir resposta vai à porta do quarto do filho, dá uma batidinha. Jonas com os fones continua empolgado com o filme pornô, prestes a se aliviar, sua mãe resolve entrar, a porta está destrancada.
- Filho! - ela abre a porta – estou esquentando o janta... Ela espantada fecha rapidamente a porta, vira de costas e volta pra cozinha. Jonas dá um pulo da cadeira, assustado e vermelho de vergonha.
- É... Já comi! Quer dizer... Não vou jantar! Ele fecha o vídeo pornô, desliga o computador e se joga na cama, levando a mão ao rosto e chacoalhando a cabeça.
 - Não acredito! Que vacilo! Depois desta só restava ao garoto dormir.
 O dia amanhece o barulho infernal dos carros invade a janela, o relógio desperta, o jovem reluta em acordar, o despertador toca pela segunda vez, e recebe um tapa desajeitado, Jonas coloca o travesseiro na cabeça e continua dormindo. Sua mãe logo bate na porta pra apressar o filho.
- Acorda!Vai perder a hora da escola! Grita ela do lado de fora. Ele se levanta e senta na cama, com o cabelo todo bagunçado e com a cara amassada, de repente a porta é esmurrada e Jonas leva um susto.
- Já vou! Ele coça a cabeça, fica de pé e se espreguiça, abre a janela e o barulho aumenta.
- Bom dia, linda... Cidade! Zomba o jovem. A porta do quarto se abre, é ele espiando se a mãe não está no corredor, diante da negativa, de vagar e na ponta dos pés ele entra no banheiro e fecha à porta, esta logo é esmurrada.
- Já está atrasado! “J” se apresa, entra no chuveiro e num banho rápido desperta, volta a seu quarto se escondendo da mãe. Rapidamente se troca, pega a mochila correndo e vai até a janela pra fechá-la, é quando uma coisa estranha o chama atenção, ele desacelera e fecha a janela lentamente.
- Parece que o vizinho do prédio da frente tava me observando! Diz ele baixinho, na janela à frente, agora de cortina fechada, o jovem teve a impressão de ter visto um binóculo, mas logo ele se lembra que está atrasado, fecha a janela e deixa o quarto. Jonas cruza a sala correndo e vai em direção a porta de saída, sua mãe ao ver o vulto diz:
- Não vai tomar café!
- Não, estou atrasado!Tchau. O jovem deixa seu apartamento e a mãe fica olhando pra porta segurando uma xícara de café.
- Oh menino danado!
  Jonas corre pra tomar o ônibus, atravessa a rua entre os carros pra não perdê-lo. Do outro lado da rua um homem branco e alto vestido com uma roupa escura observa o garoto, e informa
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algo pelo rádio. Depois de um tempo o ônibus deixa Jonas na frente da escola, ele corre pra não se atrasar, outro homem alto e trajando uma roupa escura observa o garoto na porta da escola. O sinal bate e os portões da escola começam a serem fechados, Jonas consegue entrar e dirige-se a sua sala. Seu amigo, aquele que na noite passada havia teclado com ele, aborda “J” parabenizando-o.
- Parabéns cara, o pessoal me contou hoje. Ele estende a mão e cumprimenta o amigo.
- Mas parabéns, pelo quê? Diz Jonas sem entender, os jovens espalhados pelos corredores da escola, ficam olhando-o, ele percebe e continua intrigado.
- Caramba, você não sabe!
- Não sabe! O quê?
- Nossa! Pensei que sabia, você foi o ganhador do concurso do site, da empresa JAY Technologies.
- Não! Para de brincadeira! Diz o garoto surpreso, as meninas a sua volta o olham sorridentes.
- É sério, você ganhou o prêmio de cinco mil, estão dizendo até que o poderoso Michael Jay, dono da empresa vai te receber pra entregar o prêmio em dinheiro.
- Caramba! Não acredito! O sorriso de Jonas fica estampado por alguns instantes, ele fica boquiaberto.
- Toda a galera já tá sabendo, você é uma estrela na escola. Os dois correm para a biblioteca e logo entram na internet, aflito Jonas abre o seu e-mail e lá esta o aviso do site dizendo que ele havia ganhado a concurso, eles abrem a site e na primeira página está a foto de Jonas, o garoto fica em estase.
- Caramba! Vou conhecer Michael Jay, não acredito, esse era o meu sonho! O cara é fera! Jonas muito contente largado na cadeira fica observando a tela do computador. Depois de ter caído de skate, de se sentir confuso quanto as escolhas que estava fazendo para o seu futuro e de ter sido flagrado pela mãe a sorte parecia o ter encontrado. 

Em uma grande sala cheia de telas enormes e muitos painéis de alta tecnologia com dezenas de pessoas trabalhando, em um grande computador cercado por telas aquele rapaz negro e magro, trabalha atento as informações que recebe. Adentra a sala pelas portas dupla de vidro um homem alto e forte de cabelos grisalhos e olhos verdes, seu terno impecável, o estalar alto da sola do sapato com o chão indicando passos firmes chama a atenção do rapaz, que estava entretido com os monitores a sua frente, ele se vira rapidamente.
- Cortez, por que me chamou?
- Srº Montagner, estamos com um problema com o novo caso Alfa.
- A equipe de vigilância encontrou algo?
- Não, ainda não temos nada que relacione o investigado com que estamos procurando.
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- Qual é o problema? O tom direto e frio do chefe sempre deixou o jovem analista Cortez incomodado, ele tem certeza que jamais conseguirá ficar à vontade diante do imponente Montagner.
- Senhor, o jovem ganhou um prêmio de um concurso de web designer de uma grande empresa do ramo da tecnologia da informação.
- Mas qual o problema? Sabemos que o menino até que tem talento.
- É que o concurso é da JAY Technologies. O rosto de frieza presente quase todo o tempo dá lugar a um rosto de surpresa e preocupação, Montagner se vira e olha pro vazio.
- Michael Jay! A demora em cruzar meu caminho novamente à tempos me preocupa. Exclama Montagner, Cortez sem saber o que fazer espera alguma resposta do chefe e decide continuar.
 - Não é só isso senhor, parece que Michael Jay irá entregar o prêmio pessoalmente. O ar frio volta ao rosto do homem.
- Quero você e Lisa agora em minha sala, e aumente para vermelho o nível de investigação, quero a vida de todos que conhece esse menino vasculhado, não podemos perder nada. O homem vira as costas e Cortez se apressa em transmitir todas as ordens do chefe e chamar Lisa.
Apresado Cortez sai do elevador, ele nunca havia estado no sub-nível número seis, um andar escuro e cheio de corredores em todas as direções, sendo todos iniciados em uma sala oval e diante das portas do elevador, com o término a perder de vista. O rapaz olha pra cima e bem grande está escrito “Premunição”, com uma frase logo abaixo. “O que os olhos não vêem, a mente sente”. Cada corredor está enumerado de um a seis.
- Lisa menos zero seis, dois, um, corredor dois e sala um. Fala pra si mesmo Cortez, após olhar em seu Tablet, ele dirige-se ao corredor dois, as paredes de cor chumbo deixam o lugar ainda mais escuro, uma porta de vidro traz o número um à esquerda marcado de prata, ele para diante da porta ergue a mão e no mesmo instante, esta desliza pro lado abrindo-se. Ao entrar o rapaz depara-se com uma sala moderna com um grande monitor e um programa de monitoramento do coração e regiões do cérebro rodando, no canto uma mesa de vidro com duas cadeiras, as paredes e teto cobertos por carpetes, Cortez estranha a sala estar mais fria que o normal, e a frente avista uma porta escrita, “Aquário”. Ele chama algumas vezes por Lisa e fica sem resposta, resolvendo assim entrar na sala, ao chegar perto da porta, esta começa a deslizar-se lentamente pro lado e abre-se. O rapaz fica boquiaberto com o que vê, uma linda mulher ruiva e angelical deitada em uma espécie de banheira, envolta em um fluido viscoso e azul. A mulher com alguns eletrodos colocados no tórax, braços e cabeça, parece dormir um sono profundo. “Por que aquela mulher ali, sendo monitorada?”Pensou ele. Anteriormente havia se questionado o porquê teria que chamar Lisa pessoalmente, não bastaria uma ligação? Agora sabia que pra chamar a mulher precisaria acordá-la, pois ao olhar a sala, intitulada aquário notou que esta possui isolamento acústico. Aquela sala, completamente escura, exceto por uma luz azul em volta da banheira, que por sinal, era fora do comum, pois dentro desta parecia ha uma cadeira bem confortável onde a mulher repousa tranqüila. Sem saber o que fazer ele observa um botão do
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lado escrito “Acordar”, e resolve pressioná-lo. A luz azul começa a ficar cada vez mais intensa e a cadeira dentro da banheira começa a inclinar-se, o fluido viscoso começa a abaixar rapidamente, porém sem fazer nenhum barulho. Cortez se aproxima e inclina-se pra ver o rosto da mulher e ver se ela havia despertado, ele tem a impressão que Lisa nem está respirando, ele desvia o olhar e começa a observar lentamente o corpo da mulher. A roupa vermelha e apertada define o corpo
escultural da mulher, um macacão de tecido liso e sintético.
- Oi! O som quebra o silencio sepulcral, Cortez leva um susto quase derrubando o seu tablet e fica parado diante da banheira, bem de vagar a mulher começa a abrir os olhos, ali imóvel ela olha pro vazio por alguns instantes e depois se vira olhando para o rapaz.
- É desculpa, te acordar! É que o senhor Srº Montagner quer... Vê-la imediatamente. Fala o desconcertado Cortez. A mulher se levanta, pega um roupão que está ao lado da banheira e enxuga o rosto, retira os eletrodos que estavam conectados ao seu corpo, veste o roupão e sai da banheira.
- Está bem. Diz a mulher calmamente com um olhar de felicidade.
- Não vai se trocar?
- Imediatamente. Lisa deixa a sala e vai até o monitor na ante-sala.
- Não precisa se apressar, eu te espero. Cortez a segue.
- Imediatamente foi uma palavra sua. A mulher com um leve sorriso, tecla algumas coisa no monitor e depois começa a enxugar o cabelo. Cortez encabulado achando tudo aquilo esquisito e fora de contexto fica sem saber o que dizer. Lisa calça uma pantufa que estava no canto da sala, pega um blusão com touca, que estava no cabide ao lado do monitor e deixa a sala, o rapaz a segue e os dois entram no elevador.
- Você é uma Premunitora? Pergunta Cortez.
- Sim, eu sou. Lisa com seu ar tranqüilo e leve responde sorrindo.
- Quando ouvi falar dos Premunitores, imaginei NERDs diante de um monitor executando programas de inteligência artificial, inúmeros banco de dados, e não uma mulher como você em uma....
- Banheira! Completa Lisa.
- É isso!
- É o primeiro caso que trabalha diretamente com Montagner, não é?
- Sim, estive sempre como analista suporte, procurando por pessoas estranhas através de nossos bancos de dados, e sempre alerta em equações complexas alimentadas com características de indivíduos e o que eles postam na internet. Desembesta o rapaz a falar.
- É sei como é, é a política de confidencialidade, mas nesta empresa fazemos muita mais que vigilância pro governo, criação de programas de relacionamentos e de inteligência artificial e algoritmos complexos. O elevador chega ao último andar e os dois atravessam o corredor até a sala de Montagner, logo eles chegam à sala.
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- Oi Lisa como vai?
- Bem, obrigada.
- Cortez quero que aplique protocolo número um em todos os sistemas.
- Srº Montagner, isso levará alguns dias.
- Sim eu sei, mas acho que informações vazaram, e preciso descobrir a fonte.
- Certo, transmitirei agora mesmo as ordens. Cortez se vira e ameaça deixar a sala.
- Espere ainda não te dispensei. O rapaz olha rapidamente pro chefe.
- Desculpe senhor.
- E você Lisa sabe de algo?
- Não Montagner, analisei as informações do jovem que me enviou, mas nada de interessante foi previsto.
- Temos novas informações, parece que o menino será agraciado com um prêmio da JAY Technologies entregue pelo próprio Michael Jay. Lisa não fica surpresa, com a informação.
- Como de costume ao investigar Jay não vi nada, se tivesse alguma relação, mesmo sem saber desta e ao monitorá-los separadamente eu a veria. Conclui Lisa.
- Sim, então só podemos presumir que eles não devem se conhecer ainda, de outra forma o evento estaria escrito e você o veria.
- Desculpe interromper Srº Montagner, mas escrito a onde? E ver como? Pergunta no impulso Cortez.
- Calma Cortez, as respostas ficam pra mais tarde, o mais importante é que se não existe evento relacionando o menino e Jay, a maior probabilidade descreve que foram nós que encontramos Jonas primeiro e Jay tomou conhecimento dele depois.
- Sim, pode ser. Diz Lisa.
- E isso implica em alguém aqui de dentro repassou a informação. Cortez começa a suar frio pensando que o chefe acredita ser ele quem repassou alguma informação confidencial.
- Senhor desculpe, mas se tá achando que fui eu! Não foi! Eu respeito a clausula de confidencialidade, sei no tipo de punição que ela implica. Montagner pensativo não dá ouvidos as palavras do subordinado, Lisa se aproxima e segura a braço do jovem tentando tranqüilizá-lo.
 - Calma rapaz! Ele não acha que foi você, ele confia em você.
- Mas se ele acha que há um espião, eu foi que recebi as informações primeiro, e sou um analista novo neste tipo de suporte, sou o primeiro suspeito da lista.
- Já te disse, ele confia em você. Montagner entretido nos dados de seu computador nem presta a atenção na conversa, ignorando o que pra ele não tem relevância. Cortez irrita-se com o descaso do chefe e diante da insistência de Lisa altera a voz.
- Por que ele confia tanto em mim, então! Lisa vira o rosto do rapaz pra ela e olhando no fundo dos olhos dele com seu tom conciliador e meigo diz:

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- Porque na hora da morte de Montagner você será a pessoa que estará segurando sua mão e que o confortará, seu rosto será a última coisa que ele verá. Cortez se acalma e fica olhando pasmo para Lisa.
- O quê? Que coisa absurda é essa!
- Eu vi, eu previ isso, está escrito, este evento já foi definido. O rapaz desiste de argumentar e fica olhando ora o chefe ora a linda mulher sem saber o que pensar.
     Um garoto entra em um prédio correndo, sobe as escadas velozmente saltando vários degraus de uma vez, aflito abre a porta de seu apartamento, uma mulher de costas lava louças na pia.
- Dona Elvira! Ele abraça a mãe por trás todo feliz, ela se assusta.
- O que foi Jonas?
- Mãe eu ganhei o concurso de informática, vamos receber um prêmio de cinco mil! A mulher fica maravilhada com a notícia e com a felicidade do filho.
- Filho, parabéns! Estou muito feliz por você. Os dois se abraçam e vão pra sala.
- Nossa, quando me contaram estava explodindo de felicidade por dentro, mas não conseguia acreditar, eu tinha que contar pra senhora pessoalmente, quase liguei na mesma hora, mas sei que seu chefe é um mala, e não gosta que fico ligando.
- Foi melhor mesmo, vendo essa sua alegria! Encho-me de orgulho, você ganhando dinheiro com aquilo que mais gosta.
- Puxa mãe, finalmente vou conseguir ajudar a senhora, vou comprar o vestido mais lindo, e com ele vai chover namorado na sua horta!
 - Moleque bobo! Elvira dá um tapinha no filho, ele pula do sofá.
- Mãe, agora vou tomar banho pra ir a LAN house encontrar a galera. A mãe segura a mão do filho, ele se vira para ela.
- Já sei, não foi demorar! – ele dá um beijo demorado no rosto dela – eu te amo dona Elvira, e corre pro quarto a mãe fica toda feliz.
Jonas alegre deixa o prédio onde mora e apressado vai em direção a estação de trem, a noite nebulosa encobre a cidade, ao ouvir o barulho do trem se aproximando o garoto começa a correr pra estação, é quando percebe que um homem se apressa em acompanhá-lo, ele olha pra trás e o homem disfarça, continua andando rápido ultrapassa o jovem e entra na estação. Jonas andando de vagar observa intrigado, o trem então parte e ele do lado de fora tenta encontrar o homem estranho que aparentemente o seguia, mas não consegue. Ao entrar na estação Jonas percebe que não há mais ninguém esperando o trem e senta-se pra esperar o próximo. Após alguns minutos de espera várias pessoas já esperam o trem também, que logo chega, o garoto entra no transporte e senta-se próximo a porta. O pensamento de Jonas vai longe, ele imagina dezenas de vezes como será receber o prêmio de um homem que ele tanto admira, sem falar no dinheiro e em o que pode comprar com este. As janelas do trem abertas devido a velocidade
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sopram um vento gelado em Jonas e ele se arrepende de não ter ouvido a mãe e ter trazido um casaco. No fundo do vagão ele vê um senhor sentado sozinho, a próxima estação se aproxima e o trem diminui a velocidade, e o frio diminui também, distante de Jonas um homem branco de touca e capuz se aproxima do velho. De repente ele coloca uma faca em seu rosto, o velho assustado tenta se levantar o homem o joga no chão, debruça sobre ele e arranca a carteira do bolso de trás. Nisso a porta do trem se abre e o ladrão sai correndo por esta. Jonas corre em
direção ao velho pra ajudá-lo e pedir ajuda, mas as portas do trem fecham-se, e ao olhar pela janela o rapaz nem se quer consegue avistar mais o ladrão. Ele ajuda o velho a se levantar e depois a sentar.
- O senhor está bem?
- O filho, to sim! Responde o velho ofegante.
- Precisa ir à polícia, acha que consegue identificar o ladrão?
- Consigo nada, estou sem óculos, foi tudo tão rápido, o amaldiçoado só levou meus documentos e alguns trocados, deixa pra lá, pode seguir seu caminho.
- Se o senhor quiser, te acompanho até a delegacia, mas infelizmente não vi o rosto do marginal.
- Não se preocupa não menino, depois eu tiro outros documentos, e não vai adiantar nada ir à polícia, pode seguir seu caminho, e muito obrigado pela ajuda.
- O senhor é quem sabe, eu só fiz o que qualquer um faria não precisa agradecer. Jonas volta ao seu banco e fica observando o velho e pensando em como esse mundo pode ser injusto e cruel. A noite segue Jonas logo deixa o trem e vai ao encontro de seus amigos.















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