sábado, 11 de junho de 2011

LIVRO - A Chave - A simples rotina (cap. 1)



Começando um livro, chamado "A Chave" que será postado conforme escrevo. É uma ficção científica que trata sobre o que determina o nosso destino, força de vontade, ocasionalidade?

Leiam! Os capítulos 1 e 2 já estão postados, logo posto mais. já tenho escrito até o cap. 10, não esqueçam de comentar, o que quiserem. Abraços!


A Chave

Prefácio
“Um simples objeto capaz de abrir portas e portas abertas são destinos traçados, mas o que então define um destino? Eventos aleatórios e sem nenhuma lógica ou um ser superior, intitulado Deus. Uma chave define a porta a ser aberta e assim um destino. Logo as pessoas não são capazes de decidirem seu próprio caminho. Assim até que ponto minha vontade e força para traçar um caminho influenciam meu destino? Será que uma pessoa pode definir seu caminho? A resposta é que nossa vontade é conduzida por nós até ser confrontada com a aleatoriedade do mundo produzindo um evento que define o destino. O final produzido é inesperado e dependente de milhares de variáveis incapazes de serem equacionadas, assim então é definida a aleatoriedade do universo, ou seja, aquilo que não somos capazes de compreender. Quem governa o destino então? Infinitos eventos se iniciando e interferindo uns aos outros, conspirando para o caos, afinal o universo tende sempre ao caos. Mas o que define a existência do universo é a capacidade de dar ordem ao caos. Paradoxo! Não? O caos depende da ordem para existir, pois sem esta não existe o caos, mas a tentativa de ordem por sua vez gera ainda mais caos. Um ciclo vicioso e indefinidamente contínuo. O que somos se não o caos organizado, e o que sempre buscamos se não, fazer a organização do caos de nossas vidas, e pra isso geramos mais caos, e esse processo é  contínuo.
Em inúmeras vezes durante a vida ficamos apenas no automático, realizando as tarefas apenas pra dar sequência, sempre almejando um futuro distante e melhor. Quando criança, somos segurados pela rotina da escola, quando adultos pela rotina do trabalho, na aposentadoria pela rotina dos dias monótonos. Quantas vezes não nos pegamos apenas no automático sem questionar sem almejar um futuro mais real e direto que não seja apenas ter segurança financeira e felicidade. O problema é que assim como tudo no universo nossas vidas tendem ao caos, e precisamos dia a dia buscar a ordem e nessa busca que é inatingível geramos mais e mais desordem ao nosso redor. E essa desordem só é percebida quando nos afeta diretamente. Nunca esquecemos nossos sonhos, o problema é que nos perdemos na monotonia, no automático, e acabamos enterrando-os a cada dia, mais e mais fundo, até o tempo cobrar sua conta e minar a coragem. Para realizar basta acreditar, pois isso o leva a fazer, te foca no caminho, você não se dispersa e de repente o que almejou vira realidade. Sorte! Não, isso é acreditar, muitos definem isso como fé, acreditar naquilo que não está diante de você. Acreditar não basta para realizar é preciso respirar isso todos os dias e trabalhar pra isso. Essas são as palavras genéricas de qualquer filosofia de vida sendo esta religiosa ou não. Estão disfarçadas, são dados outros nomes, mas na essência é sempre acreditar e seguir vencendo os obstáculos. O ser humano tende a simplificar tudo, pois assim é mais fácil de enchergar, de entender, e o mais preocupante é que assim fica
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mais fácil de convencer os outros. A sociedade impõe um pensamento único, do qual para um convívio harmonioso todos devem agir segundo os mesmos preceitos, o problema é que somos seres únicos, buscando seu espaço em um mundo que a cada dia fica mais igual. Então ficamos a mercê de vários poderes paralelos e suas divergências, na política, na religião, nas camadas sociais, nos negócios e outras inúmeras formas de grupos e organizações. Nossas vidas acabam se reduzindo a desenvolver uma ocupação que contribua para o bem de todos e de dar prosseguimento a nossa espécie procriando, ficamos reduzidos a abelhas trabalhando pelo bem universal, a colméia.
Ainda vivemos em um mundo apenas dividido em dois, nos que acreditam e seguem em busca de algo maior e nos que não devem acreditar e devem ficar parados desenvolvendo as atividades mais básicas para a sobrevivência do todo. E inconsciente passamos isso sempre adiante acreditando nos velhos preceitos e esperando o algo mais, ficando parado, enterrando os sonhos mais e mais. Inconscientemente ficamos nas mãos dos mesmos acreditando que nossas vidas estão resumidas em trabalhar pra ter dinheiro pra poder comprar aquilo que nos convencem de que precisamos. Produtos novos inúteis que são produzidos por pessoas que realimentam esse sistema cada vez mais. E tudo é aprimorado e você se sente obrigado a comprar sempre a versão top, consumindo inconsciente e deliberadamente. E aí se vai aos poucos os preceitos que realmente valem à pena, e o mundo apenas movido por dinheiro fica como único sentido, e as preocupações reais vão pra debaixo do tapete. E nem se damos conta que esse mundo consumista consome o nosso mundo lá na frente, o nosso planeta sofre, nós sofremos, ação e reação, é a ordem do caos gerando mais caos. Não importa que seja um planeta, uma sociedade, uma espécie, um formigueiro ou onde esteja, aqui ou em outra galáxia a lei é a mesma, evolução. O caos se organizando, evoluindo, e gerando mais problemas que em um futuro serão resolvidos, evoluindo-se.
Por isso os digo, “acreditem em algo mais”, pois estes poucos que acreditam são quem decidem os rumos da humanidade e o rumo está errado! Deixem de ser a abelhas que constroem um mundo no qual uma minoria, muitas vezes privilegiada por isso, é quem idealiza, vamos fazer parte das escolhas de forma ativa e defender um mundo melhor. Sejam a chave do seu destino, abram as portas certas para o futuro de nosso mundo.”


                                                                                                                     J.F. 


Capítulo 1 - A Simples Rotina

Um homem negro e magro percorre com pressa um corredor longo e estreito, a luz branca irrita um pouco seus olhos, ele observa as dezenas de salas divididas por paredes de vidro, as pessoas entretidas em seus computadores super avançados nem percebem a inquietação do
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 rapaz, ele afrouxa um pouco o colarinho e foca na ultima sala, a sua frente, chegando ao final da porta ele respira fundo. “Srº Montagner” está escrito na porta, também de vidro, que se abre.
- Senhor, desculpe atrapalhar... Mas é que... Ele carregando seu mini computador tablet em uma das mãos gesticula aflito.
- Diga logo analista Cortez! O homem de meia idade continua olhando pra tela do seu computador, e diante do silêncio do rapaz ele retira os óculos, coloca-o na mesa, cruza os braços e encara o subordinado.
- Meu tempo é curto! Diga... Logo!
- É que... A equação Alfa foi satisfeita!
- O quê! - Ele se levanta rapidamente e puxa o tablet da mão do rapaz – Por que não fui avisado? O alarme não soou!
- Senhor. Estamos re-configurando o sistema de alarmes, hoje estamos sem o sistema, mais assim que recebi o arquivo corri pra lhe informar, mas acho...
- Todas as palavras-chaves foram satisfeitas de forma direta? O homem interrompe e recoloca os óculos, observa o texto folheando as páginas digitais.
- Não, 70% apenas estão presentes diretamente, o restante está de forma indireta, o programa marca apenas as palavras-chaves de forma direta.
- Não precisa dar detalhes de um programa que eu mesmo idealizei. Diz o homem com o semblante carregado.
- Desculpe senhor! O homem ignora o rapaz que fica envergonhado.
- As informações estão em seu terminal?
- Sim, senhor. Mas acho que deveria... O homem se senta vai à sua tela touch screen, e com um toque rapidamente procura o terminal do rapaz. “Cortez”. Ele toca e começa a redirecionar os arquivos pro seu computador. Rapidamente os arquivos são carregados e abertos.
- Onde o colocou? Pergunta o homem, o rapaz sem graça diz:
- Estava tentando dizer... É que estou no modo remoto srº Montagner, ainda não deve ter sido atualizado! O homem fulmina o rapaz com o olhar, respira fundo balançando a cabeça e sem fazer questão de olhar pro rapaz, leva a mão a um pequeno suporte ao lado de seu monitor, ele encaixa um dedal estranho, de forma gelatinosa no dedo indicador e o leva até o tablet, toca a tela do aparelho no nome do arquivo “A Chave”. Uma luz azul se acende pisca duas vezes e fica vermelha, ele leva o dedal ao seu monitor, clica duas vezes em um pequeno ícone e uma luz vermelha se acende, esta pisca duas vezes e fica azul. O homem com o arquivo carregado em seu monitor começa a manipular as informações. Ele olha o rapaz parado a sua frente, que sem saber o que fazer fica imóvel.
- Quantos casos nível Alfa nos temos abertos no momento?
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- Apenas dois, senhor, mas já são antigos e ainda não obtivemos nada - responde o rapaz todo saudoso – Um deles tem um ano e um mês e o outro oito meses.
- Dê prioridade a este novo caso. Alguma informação dos “Premunitores”?
- Não senhor Montagner, nada foi previsto, o arquivo “A Chave” foi descoberto pelo programa espião de cruzamento de dados, também foi idealizado pelo senhor.
- Qual a fonte do arquivo?
- Nossos sites gratuitos de relacionamento, estes são um sucesso com os jovens, bela jogada do pessoal da criação. O rapaz dá um sorriso malicioso.
- Pode dizer que esse não foi idéia minha, Cortez. O rapaz encabulado gagueja.
- Desculpe... Se... Senhor!
- Não fique sem graça, sei que estou ficando pra traz, por isso 85% dessa empresa é formada por jovens, vocês são as mentes que alimentam a INFOR&Tec, mas quem aponta o caminho sou eu! Cortez abaixa a cabeça, gesticulando com esta e sinalizando que entendeu o recado.
- O nome do rapaz é Jonas Frederick, se denomina “J.F.” parece que não é muito criativo em pseudônimos, e está bem perto de nós. O homem abre uma janela em se monitor.
- Vejamos! Nenhuma correlação com outros casos alfas ou betas, parece estar isolado, ou perdemos algo no processo. Coloque-o em investigação intensa, vasculhe tudo e me mantenha informado.
- Sim senhor! Aplicaremos código laranja, se ele souber de algo nós também saberemos. Com licença.
- Cortez! - o rapaz se vira rapidamente – Bom trabalho! Mas ainda espero muito mais de você.
- Obrigado, senhor! O rapaz fica pensativo e sai da sala devagar tentando entender se acabara de ganhar um elogio ou uma advertência e conhecendo o chefe como conhecia por precaução ficou com a segunda opção.
Montagner entra no perfil da rede de relacionamento de Jonas Frederick e observa suas fotos, murmurando baixinho.
- Dezessete anos, escrevendo reflexões tão profundas, nessa idade eu só pensava em garotas e bebidas, essa juventude. Ele balança a cabeça e dá um sorriso de lado.
Em uma tarde quente de uma rua movimentada, carros por todos os lados, pessoas apressadas e um garoto passa velozmente desviando das pessoas na calçada em cima de seu skate, ele recebe muitos xingos de pedestres que quase são atropelados, o garoto astuto, pula pra avenida deslizando entre os carros parados no engarrafamento. O garoto assovia o tempo todo pedindo passagem, carregando uma mochila, vestindo shorts, camiseta e tênis, com joelheiras, cotoveleiras e capacete, ele realiza as atrevidas manobras desafiando com muita habilidade os
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obstáculos. Um Carro atravessa o sinal vermelho, obrigando o garoto a desviar rapidamente, ele
acerta a guia, sendo arremessado pra frente e caindo na calçada, as pessoas ao redor ficam pasmas.
- Ai! Meu ombro!Ele se levanta atordoado, e cambaleante é amparado por uma senhora.
- Você é louco, garoto! Pode ter quebrado o braço!A senhora irritada o empurra e sai resmungando.
- Obrigado pela ajuda! Diz o garoto com um ar irônico e morrendo de dor no ombro, torto e ainda meio atordoado, ele ajunta o skate e vê que o eixo foi arrancado da prancha, ele olha direito e vê a prancha rachada.
- Perdi meu transporte! Reclama ele baixinho, e segue pela calçada, cabisbaixo.
O jovem atravessa uma rua movimentada e suja e entra em um prédio velho, sobe as escadas sendo cumprimentado por um garotinho.
- E aí “J”, caiu de novo? Ele murmura algo e continua subindo, no terceiro andar apanha as chaves na mochila e entra no apartamento 32, as portas velas e rabiscadas revelam o abandono e simplicidade do lugar, ele joga a mochila no sofá, que está rasgado na lateral e vai pra cozinha.
- Oi filho! - uma mulher o olha de cima a baixo – Não! De novo Jonas, qualquer dia desses você se mata menino! A mulher pega o skate e joga-o na lata de lixo, vai até o armário e pega uma caixa de curativos.
 - Mãe! Já disse pra não ficar me chamando de menino, eu já tenho dezessete! Jonas abra a geladeira, pega uma garrafa de suco coloca-a no ombro, vai até a sala e se joga no sofá.
- Se você se comporta como um menino, sai pela cidade em cima desse troço! Isso desta vez vai ficar jogado no lixo, ouviu! A mulher tira a camisa do jovem e começa a limpar os ralados ele reclama muito da dor enquanto bebe o suco na garrafa. Sua mãe faz os curativos rapidamente, guarda a caixa de primeiros socorros e volta pra cozinha.
- “J” a comida ta pronta, se vira aí que tenho que trabalhar. Ela retira o avental, ajeita o cabelo no vidro do armário, e vai ao banheiro, enquanto isso Jonas vai a lata de lixo, pega o skate e começa a reavaliar, depois ele joga novamente na lata de lixo, volta ao sofá e se joga.
- Fiquei sem skate! O jovem emburrado se deita no sofá entre as almofadas. Sua mãe volta à sala carregando sua bolsa e desperta o filho com um beijo no rosto muito corrido e desajeitado.
- Tchau, filho vê se toma jeito e não fica muito no seu computador! Jonas com um sorriso tímido despede-se da mãe, que logo deixa o apartamento. O jovem fica por uns minutos descansando no sofá, depois mesmo todo dolorido dá um salto do sofá, e logo se arrepende resmungando e levando as mãos nos ferimentos. Em seu quarto pequeno e bagunçado liga o computador e corre pra internet. Abre várias janelas, sites de relacionamento, e-mails, de notícias, ele muito a vontade logo esquece de vez o incômodo dos machucados, coloca os fones
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de ouvidos e se diverte com os joguinhos agitados e complicados.
A noite chega e o barulho infernal do trânsito diminui, o vento frio entra pela janela, Jonas deixa o computador e na janela do quarto observa as luzes da cidade, por uns instantes fica pensando nos rumos de sua vida. Como todo jovem confuso e indeciso prestes a finalizar os estudos e sem saber o que fazer pra construir um futuro e ajudar sua mãe que sempre fez tudo por ele. Jonas é um jovem muito alegre e esforçado, tem no exemplo da mãe a garra e honestidade, seu pai abandonou a família quando o jovem tinha apenas oito anos. As poucas lembranças do pai não são muito felizes, ao contrário do exemplo de força da mãe, que sempre colocou o filho em primeiro lugar. Aos dezessete anos Jonas teve que argumentar muito com a mãe pra poder trabalhar por meio período e em dias alternados depois da escola. Aos trinta e oito anos a senhora Frederick não se casou novamente depois de ser abandonada, tendo poucos namorados, a educação e conforto do filho consumiram os anos de juventude dela. “J” sempre adorou computadores sendo web designer freelancer, ajudando a construir blogs e páginas de pequenos comércios como pizzarias, mercearias e trabalha como garçom em um restaurante. Um jovem sonhador, este é “J”, esperando um dia ser um grande programador e web designer, um desenvolvedor de sites curtido pela galera, ganhar muito dinheiro e ser feliz. Sua maior esperança no momento era ganhar um concurso de um grande site famoso, no qual teve que desenvolver ferramentas específicas para a galera teen, seu projeto já tinha sido escolhido como um dos cem melhores, e já tinha ganhado um ano grátis de acesso aos jogos de uma das maiores empresas de tecnologia da informação do mundo, a “JAY Technologies”. Empresa esta, tendo como maior acionista um presunçoso e badalado empresário, Jonas sonhava em um dia ser como este empresário e acompanha diariamente a página de relacionamento do bilionário. Na janela o jovem observa a lua entre os prédios por algum instante e depois a fecha. O computador apita, é um amigo teclando.
- Falaí J!Blz. Não apareceu lá na LAN hoje, pq? Ele se senta na frente do computador e começa a teclar com o amigo.
- Blz, ñ fui pq caí de skt, to todo ralado, meio dolorido pra jogar.
- Nossa! Vc vive caindo poraí, tá perdendo pro skt! rsrsrs.
- Q isso!Ainda so fera! Essa rua q é muito doida, mas amanha to lá.
-To zuando, sei q é fera no skt, mas sua mãe tem razão, essa cidade ñ tem nem espaço pros carros e pra galera, quanto + pra skt. Então blz nos vemos amanha, agora vou sair com aquela mina da escola, falooo!
- Blz! Amanha acabo com vc de novo no jogo. “J” fecha as janelas de bate papo, as janelas dos joguinhos e entra em um site pornô. O jovem coloca o fone e começa a clicar nos vídeos, acha um melhor que o outro, muitas mulheres nuas.
- Nossa! Essa tá perdida! Sussurra ele, aos poucos vai se empolgando e começa a se
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masturbar. Na sala sua mãe abre a porta chegando da rua e chamando pelo filho, deixa a bolsa na mesa da sala e vai a geladeira, tira um prato pronto enrolado por filme, desenrola e coloca no microondas.
- “J”, cheguei! Já jantou? Grita ela da cozinha, sem ouvir resposta vai à porta do quarto do filho, dá uma batidinha. Jonas com os fones continua empolgado com o filme pornô, prestes a se aliviar, sua mãe resolve entrar, a porta está destrancada.
- Filho! - ela abre a porta – estou esquentando o janta... Ela espantada fecha rapidamente a porta, vira de costas e volta pra cozinha. Jonas dá um pulo da cadeira, assustado e vermelho de vergonha.
- É... Já comi! Quer dizer... Não vou jantar! Ele fecha o vídeo pornô, desliga o computador e se joga na cama, levando a mão ao rosto e chacoalhando a cabeça.
 - Não acredito! Que vacilo! Depois desta só restava ao garoto dormir.
 O dia amanhece o barulho infernal dos carros invade a janela, o relógio desperta, o jovem reluta em acordar, o despertador toca pela segunda vez, e recebe um tapa desajeitado, Jonas coloca o travesseiro na cabeça e continua dormindo. Sua mãe logo bate na porta pra apressar o filho.
- Acorda!Vai perder a hora da escola! Grita ela do lado de fora. Ele se levanta e senta na cama, com o cabelo todo bagunçado e com a cara amassada, de repente a porta é esmurrada e Jonas leva um susto.
- Já vou! Ele coça a cabeça, fica de pé e se espreguiça, abre a janela e o barulho aumenta.
- Bom dia, linda... Cidade! Zomba o jovem. A porta do quarto se abre, é ele espiando se a mãe não está no corredor, diante da negativa, de vagar e na ponta dos pés ele entra no banheiro e fecha à porta, esta logo é esmurrada.
- Já está atrasado! “J” se apresa, entra no chuveiro e num banho rápido desperta, volta a seu quarto se escondendo da mãe. Rapidamente se troca, pega a mochila correndo e vai até a janela pra fechá-la, é quando uma coisa estranha o chama atenção, ele desacelera e fecha a janela lentamente.
- Parece que o vizinho do prédio da frente tava me observando! Diz ele baixinho, na janela à frente, agora de cortina fechada, o jovem teve a impressão de ter visto um binóculo, mas logo ele se lembra que está atrasado, fecha a janela e deixa o quarto. Jonas cruza a sala correndo e vai em direção a porta de saída, sua mãe ao ver o vulto diz:
- Não vai tomar café!
- Não, estou atrasado!Tchau. O jovem deixa seu apartamento e a mãe fica olhando pra porta segurando uma xícara de café.
- Oh menino danado!
  Jonas corre pra tomar o ônibus, atravessa a rua entre os carros pra não perdê-lo. Do outro lado da rua um homem branco e alto vestido com uma roupa escura observa o garoto, e informa
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algo pelo rádio. Depois de um tempo o ônibus deixa Jonas na frente da escola, ele corre pra não se atrasar, outro homem alto e trajando uma roupa escura observa o garoto na porta da escola. O sinal bate e os portões da escola começam a serem fechados, Jonas consegue entrar e dirige-se a sua sala. Seu amigo, aquele que na noite passada havia teclado com ele, aborda “J” parabenizando-o.
- Parabéns cara, o pessoal me contou hoje. Ele estende a mão e cumprimenta o amigo.
- Mas parabéns, pelo quê? Diz Jonas sem entender, os jovens espalhados pelos corredores da escola, ficam olhando-o, ele percebe e continua intrigado.
- Caramba, você não sabe!
- Não sabe! O quê?
- Nossa! Pensei que sabia, você foi o ganhador do concurso do site, da empresa JAY Technologies.
- Não! Para de brincadeira! Diz o garoto surpreso, as meninas a sua volta o olham sorridentes.
- É sério, você ganhou o prêmio de cinco mil, estão dizendo até que o poderoso Michael Jay, dono da empresa vai te receber pra entregar o prêmio em dinheiro.
- Caramba! Não acredito! O sorriso de Jonas fica estampado por alguns instantes, ele fica boquiaberto.
- Toda a galera já tá sabendo, você é uma estrela na escola. Os dois correm para a biblioteca e logo entram na internet, aflito Jonas abre o seu e-mail e lá esta o aviso do site dizendo que ele havia ganhado a concurso, eles abrem a site e na primeira página está a foto de Jonas, o garoto fica em estase.
- Caramba! Vou conhecer Michael Jay, não acredito, esse era o meu sonho! O cara é fera! Jonas muito contente largado na cadeira fica observando a tela do computador. Depois de ter caído de skate, de se sentir confuso quanto as escolhas que estava fazendo para o seu futuro e de ter sido flagrado pela mãe a sorte parecia o ter encontrado. 

Em uma grande sala cheia de telas enormes e muitos painéis de alta tecnologia com dezenas de pessoas trabalhando, em um grande computador cercado por telas aquele rapaz negro e magro, trabalha atento as informações que recebe. Adentra a sala pelas portas dupla de vidro um homem alto e forte de cabelos grisalhos e olhos verdes, seu terno impecável, o estalar alto da sola do sapato com o chão indicando passos firmes chama a atenção do rapaz, que estava entretido com os monitores a sua frente, ele se vira rapidamente.
- Cortez, por que me chamou?
- Srº Montagner, estamos com um problema com o novo caso Alfa.
- A equipe de vigilância encontrou algo?
- Não, ainda não temos nada que relacione o investigado com que estamos procurando.
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- Qual é o problema? O tom direto e frio do chefe sempre deixou o jovem analista Cortez incomodado, ele tem certeza que jamais conseguirá ficar à vontade diante do imponente Montagner.
- Senhor, o jovem ganhou um prêmio de um concurso de web designer de uma grande empresa do ramo da tecnologia da informação.
- Mas qual o problema? Sabemos que o menino até que tem talento.
- É que o concurso é da JAY Technologies. O rosto de frieza presente quase todo o tempo dá lugar a um rosto de surpresa e preocupação, Montagner se vira e olha pro vazio.
- Michael Jay! A demora em cruzar meu caminho novamente à tempos me preocupa. Exclama Montagner, Cortez sem saber o que fazer espera alguma resposta do chefe e decide continuar.
 - Não é só isso senhor, parece que Michael Jay irá entregar o prêmio pessoalmente. O ar frio volta ao rosto do homem.
- Quero você e Lisa agora em minha sala, e aumente para vermelho o nível de investigação, quero a vida de todos que conhece esse menino vasculhado, não podemos perder nada. O homem vira as costas e Cortez se apressa em transmitir todas as ordens do chefe e chamar Lisa.
Apresado Cortez sai do elevador, ele nunca havia estado no sub-nível número seis, um andar escuro e cheio de corredores em todas as direções, sendo todos iniciados em uma sala oval e diante das portas do elevador, com o término a perder de vista. O rapaz olha pra cima e bem grande está escrito “Premunição”, com uma frase logo abaixo. “O que os olhos não vêem, a mente sente”. Cada corredor está enumerado de um a seis.
- Lisa menos zero seis, dois, um, corredor dois e sala um. Fala pra si mesmo Cortez, após olhar em seu Tablet, ele dirige-se ao corredor dois, as paredes de cor chumbo deixam o lugar ainda mais escuro, uma porta de vidro traz o número um à esquerda marcado de prata, ele para diante da porta ergue a mão e no mesmo instante, esta desliza pro lado abrindo-se. Ao entrar o rapaz depara-se com uma sala moderna com um grande monitor e um programa de monitoramento do coração e regiões do cérebro rodando, no canto uma mesa de vidro com duas cadeiras, as paredes e teto cobertos por carpetes, Cortez estranha a sala estar mais fria que o normal, e a frente avista uma porta escrita, “Aquário”. Ele chama algumas vezes por Lisa e fica sem resposta, resolvendo assim entrar na sala, ao chegar perto da porta, esta começa a deslizar-se lentamente pro lado e abre-se. O rapaz fica boquiaberto com o que vê, uma linda mulher ruiva e angelical deitada em uma espécie de banheira, envolta em um fluido viscoso e azul. A mulher com alguns eletrodos colocados no tórax, braços e cabeça, parece dormir um sono profundo. “Por que aquela mulher ali, sendo monitorada?”Pensou ele. Anteriormente havia se questionado o porquê teria que chamar Lisa pessoalmente, não bastaria uma ligação? Agora sabia que pra chamar a mulher precisaria acordá-la, pois ao olhar a sala, intitulada aquário notou que esta possui isolamento acústico. Aquela sala, completamente escura, exceto por uma luz azul em volta da banheira, que por sinal, era fora do comum, pois dentro desta parecia ha uma cadeira bem confortável onde a mulher repousa tranqüila. Sem saber o que fazer ele observa um botão do
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lado escrito “Acordar”, e resolve pressioná-lo. A luz azul começa a ficar cada vez mais intensa e a cadeira dentro da banheira começa a inclinar-se, o fluido viscoso começa a abaixar rapidamente, porém sem fazer nenhum barulho. Cortez se aproxima e inclina-se pra ver o rosto da mulher e ver se ela havia despertado, ele tem a impressão que Lisa nem está respirando, ele desvia o olhar e começa a observar lentamente o corpo da mulher. A roupa vermelha e apertada define o corpo
escultural da mulher, um macacão de tecido liso e sintético.
- Oi! O som quebra o silencio sepulcral, Cortez leva um susto quase derrubando o seu tablet e fica parado diante da banheira, bem de vagar a mulher começa a abrir os olhos, ali imóvel ela olha pro vazio por alguns instantes e depois se vira olhando para o rapaz.
- É desculpa, te acordar! É que o senhor Srº Montagner quer... Vê-la imediatamente. Fala o desconcertado Cortez. A mulher se levanta, pega um roupão que está ao lado da banheira e enxuga o rosto, retira os eletrodos que estavam conectados ao seu corpo, veste o roupão e sai da banheira.
- Está bem. Diz a mulher calmamente com um olhar de felicidade.
- Não vai se trocar?
- Imediatamente. Lisa deixa a sala e vai até o monitor na ante-sala.
- Não precisa se apressar, eu te espero. Cortez a segue.
- Imediatamente foi uma palavra sua. A mulher com um leve sorriso, tecla algumas coisa no monitor e depois começa a enxugar o cabelo. Cortez encabulado achando tudo aquilo esquisito e fora de contexto fica sem saber o que dizer. Lisa calça uma pantufa que estava no canto da sala, pega um blusão com touca, que estava no cabide ao lado do monitor e deixa a sala, o rapaz a segue e os dois entram no elevador.
- Você é uma Premunitora? Pergunta Cortez.
- Sim, eu sou. Lisa com seu ar tranqüilo e leve responde sorrindo.
- Quando ouvi falar dos Premunitores, imaginei NERDs diante de um monitor executando programas de inteligência artificial, inúmeros banco de dados, e não uma mulher como você em uma....
- Banheira! Completa Lisa.
- É isso!
- É o primeiro caso que trabalha diretamente com Montagner, não é?
- Sim, estive sempre como analista suporte, procurando por pessoas estranhas através de nossos bancos de dados, e sempre alerta em equações complexas alimentadas com características de indivíduos e o que eles postam na internet. Desembesta o rapaz a falar.
- É sei como é, é a política de confidencialidade, mas nesta empresa fazemos muita mais que vigilância pro governo, criação de programas de relacionamentos e de inteligência artificial e algoritmos complexos. O elevador chega ao último andar e os dois atravessam o corredor até a sala de Montagner, logo eles chegam à sala.
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- Oi Lisa como vai?
- Bem, obrigada.
- Cortez quero que aplique protocolo número um em todos os sistemas.
- Srº Montagner, isso levará alguns dias.
- Sim eu sei, mas acho que informações vazaram, e preciso descobrir a fonte.
- Certo, transmitirei agora mesmo as ordens. Cortez se vira e ameaça deixar a sala.
- Espere ainda não te dispensei. O rapaz olha rapidamente pro chefe.
- Desculpe senhor.
- E você Lisa sabe de algo?
- Não Montagner, analisei as informações do jovem que me enviou, mas nada de interessante foi previsto.
- Temos novas informações, parece que o menino será agraciado com um prêmio da JAY Technologies entregue pelo próprio Michael Jay. Lisa não fica surpresa, com a informação.
- Como de costume ao investigar Jay não vi nada, se tivesse alguma relação, mesmo sem saber desta e ao monitorá-los separadamente eu a veria. Conclui Lisa.
- Sim, então só podemos presumir que eles não devem se conhecer ainda, de outra forma o evento estaria escrito e você o veria.
- Desculpe interromper Srº Montagner, mas escrito a onde? E ver como? Pergunta no impulso Cortez.
- Calma Cortez, as respostas ficam pra mais tarde, o mais importante é que se não existe evento relacionando o menino e Jay, a maior probabilidade descreve que foram nós que encontramos Jonas primeiro e Jay tomou conhecimento dele depois.
- Sim, pode ser. Diz Lisa.
- E isso implica em alguém aqui de dentro repassou a informação. Cortez começa a suar frio pensando que o chefe acredita ser ele quem repassou alguma informação confidencial.
- Senhor desculpe, mas se tá achando que fui eu! Não foi! Eu respeito a clausula de confidencialidade, sei no tipo de punição que ela implica. Montagner pensativo não dá ouvidos as palavras do subordinado, Lisa se aproxima e segura a braço do jovem tentando tranqüilizá-lo.
 - Calma rapaz! Ele não acha que foi você, ele confia em você.
- Mas se ele acha que há um espião, eu foi que recebi as informações primeiro, e sou um analista novo neste tipo de suporte, sou o primeiro suspeito da lista.
- Já te disse, ele confia em você. Montagner entretido nos dados de seu computador nem presta a atenção na conversa, ignorando o que pra ele não tem relevância. Cortez irrita-se com o descaso do chefe e diante da insistência de Lisa altera a voz.
- Por que ele confia tanto em mim, então! Lisa vira o rosto do rapaz pra ela e olhando no fundo dos olhos dele com seu tom conciliador e meigo diz:

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- Porque na hora da morte de Montagner você será a pessoa que estará segurando sua mão e que o confortará, seu rosto será a última coisa que ele verá. Cortez se acalma e fica olhando pasmo para Lisa.
- O quê? Que coisa absurda é essa!
- Eu vi, eu previ isso, está escrito, este evento já foi definido. O rapaz desiste de argumentar e fica olhando ora o chefe ora a linda mulher sem saber o que pensar.
     Um garoto entra em um prédio correndo, sobe as escadas velozmente saltando vários degraus de uma vez, aflito abre a porta de seu apartamento, uma mulher de costas lava louças na pia.
- Dona Elvira! Ele abraça a mãe por trás todo feliz, ela se assusta.
- O que foi Jonas?
- Mãe eu ganhei o concurso de informática, vamos receber um prêmio de cinco mil! A mulher fica maravilhada com a notícia e com a felicidade do filho.
- Filho, parabéns! Estou muito feliz por você. Os dois se abraçam e vão pra sala.
- Nossa, quando me contaram estava explodindo de felicidade por dentro, mas não conseguia acreditar, eu tinha que contar pra senhora pessoalmente, quase liguei na mesma hora, mas sei que seu chefe é um mala, e não gosta que fico ligando.
- Foi melhor mesmo, vendo essa sua alegria! Encho-me de orgulho, você ganhando dinheiro com aquilo que mais gosta.
- Puxa mãe, finalmente vou conseguir ajudar a senhora, vou comprar o vestido mais lindo, e com ele vai chover namorado na sua horta!
 - Moleque bobo! Elvira dá um tapinha no filho, ele pula do sofá.
- Mãe, agora vou tomar banho pra ir a LAN house encontrar a galera. A mãe segura a mão do filho, ele se vira para ela.
- Já sei, não foi demorar! – ele dá um beijo demorado no rosto dela – eu te amo dona Elvira, e corre pro quarto a mãe fica toda feliz.
Jonas alegre deixa o prédio onde mora e apressado vai em direção a estação de trem, a noite nebulosa encobre a cidade, ao ouvir o barulho do trem se aproximando o garoto começa a correr pra estação, é quando percebe que um homem se apressa em acompanhá-lo, ele olha pra trás e o homem disfarça, continua andando rápido ultrapassa o jovem e entra na estação. Jonas andando de vagar observa intrigado, o trem então parte e ele do lado de fora tenta encontrar o homem estranho que aparentemente o seguia, mas não consegue. Ao entrar na estação Jonas percebe que não há mais ninguém esperando o trem e senta-se pra esperar o próximo. Após alguns minutos de espera várias pessoas já esperam o trem também, que logo chega, o garoto entra no transporte e senta-se próximo a porta. O pensamento de Jonas vai longe, ele imagina dezenas de vezes como será receber o prêmio de um homem que ele tanto admira, sem falar no dinheiro e em o que pode comprar com este. As janelas do trem abertas devido a velocidade
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sopram um vento gelado em Jonas e ele se arrepende de não ter ouvido a mãe e ter trazido um casaco. No fundo do vagão ele vê um senhor sentado sozinho, a próxima estação se aproxima e o trem diminui a velocidade, e o frio diminui também, distante de Jonas um homem branco de touca e capuz se aproxima do velho. De repente ele coloca uma faca em seu rosto, o velho assustado tenta se levantar o homem o joga no chão, debruça sobre ele e arranca a carteira do bolso de trás. Nisso a porta do trem se abre e o ladrão sai correndo por esta. Jonas corre em
direção ao velho pra ajudá-lo e pedir ajuda, mas as portas do trem fecham-se, e ao olhar pela janela o rapaz nem se quer consegue avistar mais o ladrão. Ele ajuda o velho a se levantar e depois a sentar.
- O senhor está bem?
- O filho, to sim! Responde o velho ofegante.
- Precisa ir à polícia, acha que consegue identificar o ladrão?
- Consigo nada, estou sem óculos, foi tudo tão rápido, o amaldiçoado só levou meus documentos e alguns trocados, deixa pra lá, pode seguir seu caminho.
- Se o senhor quiser, te acompanho até a delegacia, mas infelizmente não vi o rosto do marginal.
- Não se preocupa não menino, depois eu tiro outros documentos, e não vai adiantar nada ir à polícia, pode seguir seu caminho, e muito obrigado pela ajuda.
- O senhor é quem sabe, eu só fiz o que qualquer um faria não precisa agradecer. Jonas volta ao seu banco e fica observando o velho e pensando em como esse mundo pode ser injusto e cruel. A noite segue Jonas logo deixa o trem e vai ao encontro de seus amigos.




















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